Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Rã e o Boi

JUVENTUDE

Numa ensolarada manhã,
A beira de uma lagoa
Estavam à toa
Um boi e uma rã

Num certo momento
A rã tem um intento
E põe-se a inchar
Para igual ao boi ficar

Estufa-se todinha...
- Impossível amiguinha.
Lhe corrige um inseto
Por certo mais esperto.

- Pois olhe melhor!
Não estou maior?
Disse a rã, tomando mais ar,

Continuando a inchar...

Aos conselhos ignorou
E inchou... inchou...
Até que... pou!
Simplesmente estourou!

O boi acabando de beber
Lança-lhe um ar filosofal,
Como que a dizer
De modo proverbial:

- Quem para cinco moedas nasce,
Ainda que muito se esforce,
Não chega a sete.

Quanto mais a vinte...

HTSR/009719121982

Grandes Horas

JUVENTUDE

As grandes horas! Raridade...
Gasta-se o tempo banalmente
Numa preocupação cronométrica
De se fazer coisas ocas...

As grandes horas! Vive-las?
Tolice! Isso seria um crime.
Só a produção redime.
Deixemos de novelas!

As grandes horas! Vive-las...
Excruciante incerteza
D’uma olvidada riqueza.
Deveremos perde-la?

Oh tempo, tempo, tempo...
Tudo na vida tem tempo.
Até nascer...
Até morrer...

E o viver?
Isto é um outro querer.
Fica para depois.
Existe sempre um depois.

Os dias vão passando
E nós vamos existindo...
Os dias são passados.

Foram feitos de criados!

Afetos?... Divagações?...
São só prisões.
Fazem-nos perder tempo.
O precioso tempo.

Ganhar o pão do meu dia.
Ganhar o pão do teu dia.
Eis a nossa função:
Viver a produção!

É vício ter sentimento.
E meu coração está repleto...
Somente o meu?
Também o teu!

De teus lábios entreabertos
Doces palavras escaparam.
Pousaram sobre os ponteiros
E as horas pararam...

Se tornaram grandes as horas.
Imensas, infindáveis horas...
Segundos, minutos, eu não mais os senti...

As grandes horas! Vivi...

HTSR/009619121982

Esperança

JUVENTUDE

Brancura na alma
Olhos quase cegos
A que se soma
Um falar mais que vago

Ao longe, o horizonte em fuga...
Ao redor, a natureza – morta!
E, como a que nada preza,
Encontra-se a alma – incerta.

Aquém dos vales,
Só nebulosidade...
Além dos vales,
Também: nebulosidade...

Me sinto obscurecido,
Todo enuviado...
Só nuvens na paralisia

De meu desejo... de minha poesia...

Sob meus pés, gelo.
Em meu rosto, amarelo,
Um sorriso sem encanto,
Uma expressão abstrata.

A caneta, imóvel à mão,
Espera por qualquer ação.
Que seja um pensar reflexivo,
Um registro, em nada definitivo...

Escrevo versos indecisos em meu caderno,
Envolto em enlevos de abandono,
Débil das ternuras cetim
Almejadas num esperar sem fim...

E, ao riscar uma grafia trêmula,
Reflexo mudo de minha fala
Percebo que sem sonho,

No papel nada ponho

HTSR/009502121982

Teus Olhos

JUVENTUDE

Eis que os vejo, tão belos
Envoltos num ar tão amável
Estão cheios de um quê singelo
Criador de uma fantasia inexplicável...

A cada movimento de graça
É como uma vida que começa...
E o abrir das cortinas ciliares
Mostra o realce dos brilhos pupilares!

Se neles, brevemente, fixamos
Um pouco de nossa atenção descuidada
Então logo sonhamos
Com toda uma vida amada

Teus olhos são como teu nome...
Marise, doce nome.
Teus olhos, doce visão.
Fonte querida de canção!


Tenho, ao ver teus olhos lindos
Lembrança de pérolas escuras brilhando
Ao contemplar suas formas,
Sinto a placidez de águas calmas...

Um quê de melancolia,
Um quê de alegria
Neles se misturam.
Uns ares de mistério lhes dão.

Nos trazem serena calma.
Branda, leve como pluma...
O longínquo infinito
Com esperança então é visto

E na sugestiva paz da natureza,
Quando nos envolvemos com a pureza,
Uma lembrança nos sacode o coração.

São teus olhos: doce inspiração!

HTSR/009418111982