Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Soneto do Reencontro

ADOLESCÊNCIA

Vida pacata é esta
A vida em meu quarto.
Horas sozinho reparto
Com a paz discreta.

Dia leve, de beleza dourada...
Neste dia airoso
A tarde cheira a um licor precioso
Parece uma taça entornada...

Nuvens esparsas e alvadias,
Assim tão deslizantes
Pelos céus errantes,
Parecem silhuetas fugidias...

Ouvindo valsas e sinfonias
Brinco de ser poeta,
Deixando que sonhos em festa
Me levem ao país fantasia!

Mas do enlevo desses dias
Já começo a me enjoar!
E um novo quê vem despertar
Em meus esboços de poesia.

Um quêzinho ainda dormente,
De uma coisa semente,
Que vai inchandoE vai crescendo...


Sem que possa exprimir
Um estranho modo de sentir,
Escrevo rimas avessas
Ao som de músicas dispersas.

E a lembrança de uma figura
Que de tão terna me encantara,
Está agora ausente.
E de mim distante...

Mas doce e feminina,
Afaga uma saudade menina
Que em meu ser desponta,
Ainda que discreta.

Alegre e carinhosa...
Assim te guardo, assim te lembro,
Misto de rosa e andorinha
Dos meses brandos de setembro!...

Estes dias de janeiro
Como demoram a passar.
Isso me faz pensar:
Será igual em fevereiro!

Que março chegue sem demora!
Cada segundo é como hora.
Desejo logo rever-te
Minha querida Elizabeth.


HTSR/004901011981

Novo Ano

ADOLESCÊNCIA

Inicia um novo ano
Com ele esperanças e enganos
Rios que se perdem em florestas
Sonhos de mancebos e poetas

Sim... Novo ano!
E no pano de fundo
Ano a ano
É ele mudado

São feitos planos de instante
Pouco além da vida indolente
Algo como que presunção
Refletindo sensação

Nas nuvens cor de cinza do horizonte
Mergulham os menos contentes
No azul das ondas e na terra quente
Deleitam-se os mais contentes


E assim inicia-se o novo ano
Ora com rimas
Ora sem rimas
Ora humilde ora ufano

E ufanos vamos sonhando
Perdendo-nos na intranqüilidade
Almejando a felicidade
Como bobos encantados

Mas a vida é assim mesmo
Desprovida de esmo
Antes ser um sonhador

Do que um amante da dor

HTSR/004824121980

Uma Poesia Realista do Natal

ADOLESCÊNCIA

Aproxima-se o Natal
E nos dias que o qntecedem
Será tudo tão igual
A anos atrás, idem.

Propagandas de anjos loiros
Como se o mundo inteiro fosse loiro
Motivos coloridos de brancura
Como se pureza fosse sinônimo de alvura

Cultura de sonhos fugidios
Alegrias de sentidos dúbios
Num tudo tão igual
Num tudo sem Natal

Burocratas emprestam-se de sorrisos
Nos chovem tempestades de avisos
Compre aqui, ali, acolá.
Hoje, agora, já

O que era difícil ficou fácil
O que era fácil ficou difícil
E o abuso desmedidoVira obra de encanto


Publicidade de alegria bastarda
Riem todos de bobeira dada
Autômatos indo as lojas
E de lá voltando em farpas

Milagrosos carrosséis
Enfeitinhos de papéis
Em feira de fantasia
Tornam doce a barbaria

Religiosos bem falantes
Com formalidade enojante
Cumprem rituais que convém
Para levar a demagogia além

São todos tão iguais
São todos tão banais
O que é para o ano inteiro
Fazem agora rasteiro

Natal! Manchete de sensação!
Transmitida a todo o mundo
Famoso dia de fundo

Que acende uma revolução

HTSR/004714121980

domingo, 30 de agosto de 2009

O Maestro

ADOLESCÊNCIA

O espetáculo vai começar
O público respira em suspense
Há um clima de espera no ar
Há em que nada se pense

Num ambiente de veneração
Não há quem esboce ação
É tudo uma curiosa espera
No silêncio que impera

Hora indecisa de noção indefinida
A orquestra inteira preparada
Espera-se a hora momento
E ele está atento

As paredes parecem suar
Música corre em veias
O público já anseia
O primeiro som que vai toar

Uma mão se ergue lentamente
Checagem do corpo e mente
Num quê de demora
Chega o momento do agora

A batuta move-se no ar
Sobressalto de olhares
Afrouxamento de lugares
As notas irão soar


Um, dois, três! E inicia
Como catedral que se ilumina
Como sonho que voou
A música soou

Profunda e plena
Grave e serena
Tudo se reduziu à essência
E todos viraram poesia

Há uma explosão de cores e sons
Dezenas de bemóis e sustenidos tons
Que numa toada ardente
Conquistam a toda gente

Dele o olhar austero, vigilante
E ao mesmo tempo conquistante
Transmitindo vida e vibrações
Doma o descontrole das emoções

O final glorioso
Arranca aplausos e aplausos
Festividade antes merecida
E não apenas almejada

A vitória é completa
A batuta se aquieta
É ele o grande herói

Contendo a emoção que lhe dói

HTSR/004629111980

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vivendo Música

ADOLESCÊNCIA

Bailam no ar notinhas coloridas
Alegres, fugazes, saltitantes
Com sua festividade florida
Trapezeiam nos móveis e estantes

Ah, ah! Notinhas brincalhonas
Massageiam meus ouvidos
Assim soltas que nem penas
Fazem o seu som querido

De onde vêm essas notinhas
Assim tão leves, tão soltinhas?
Sinto-me como se fosse música
Meu ser todo “musiqueia” em mímica

Parece até que estou me decompondo
Em milhares de notas musicadas
E dezenas de melodias compondo
Em formas embaladas

Não consigo tocar as notinhas
São todas fugidias
Notinha eu queria ser

E atrás delas correr

HTSR/004528101980

Insensibilidade

ADOLESCÊNCIA

"Não espanta que eu fale em meu próprio sentido e que aqueles que agradam a si mesmos estejam na ilusão de serem dignos de louvor: assim, a mais bela criatura que existe é: para o cão, o cão; para o boi, o boi; para o asno, o asno e, para o porco o porco."
Epicarmo


Que os mais belos dons tenham
O menor número de admiradores
Só assim alcançarão
Seus devidos valores

Se a maior parte do mundo
Tem em conta o que não presta
A ele faço-me surdo
À mim também não presta

Conferindo glória ao mundo
Deprecio a mim mesmo
Não faço assim a esmo
Tal loucura, tal absurdo

Não é espanto de mim próprio
Falar, quando todo néscio
Encontra-se na ilusão da dor

Julgando-se digno de louvor

Quão poucos dias temos
Nesta existência
Sutil e fria
Que tanto almejamos

Vale a pena passá-la
Diante de patifes
Rastejando como vermes
Ou ao máximo gozá-la?

Um discurso brejeiro
Dorme nos ouvidos do tolo
Dele me esgueiro
Não quero vê-lo

Nada posso fazer
Está tudo visível
É simplesmente incrível

O não querer

HTSR/004430101980

Florianópolis

ADOLESCÊNCIA

Nobre ponte citadina
De tão tranquila capital
Da manhã de neblina
Nasce a tarde sem igual

A baía em sua concavidade majestosa
Embeleza ainda mais a ilha bondosa
Com seu litoral enorme
Que alegra e inspira-me

As elevadas torres da ponte
Entre tantas outras a faz singular
Pois em nenhum lugar
Há coisa de tal porte

Nobre ponte citadina
De minha cidade adorada
Terra de natureza amada

Fazes minh’alma ufana

Um cheiro de maresia
Vem me refrescar
Como que melodia
Vinda das ondas do mar

Deste mar celeste
Que num azul enorme
A imensidão do céu retrata-me
Com beleza imponente

Baía exuberante, encantada
Seduzente no Abril
Vestida de cristal e anil
Vales a pena ser cantada

Florianópolis de incomparável crepúsculo
E inegualável aurora
Com alegria até pulo

De estar aqui agora

HTSR/004325101980

O Flautista

ADOLESCÊNCIA

O quarto é simples e pequeno
De tijolos rústicos é feita
A singela parede
Sem bugigangas ou enfeites

Na tosca mesa
Num canto do quarto escuro
Repousa entre partituras
A já velha flauta

A janela estreita
Mal permite que a tênue luz
Tão fraca ilumine
O pouco que há para se iluminar

Na cadeira balouçante
O tocador se fixa nos papéis
Procurando o que não se sabe
Nas pautas já quase desfeitas

Escrevendo e refazendo coisas
Esquecido do tempo
Que já lhe esqueceu
Vive um mundo de notas e compassos

Ah! Quantas vezes pensando nela
Por horas mortas postou-se assim
Insone e triste à mesa

Tardas vigílias passando em vão

Seu espírito habita a imensidade
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas
De sua singular criação

Em suas mínimas e colcheias
Escoa-se a vida humanamente
É um suscitar de côres endoidecidas
De ser tão só talvez

Quando a música soou
Profunda e plena
Por entre as paredes
Tudo se reduziu à essência

Numa incerta melodia
Toda a sua alma se esconde
Reminiscências do aonde
Pertubam-lhe a nostalgia

Numa ânsia de ter alguma coisa
Divaga por si mesmo a procurar
Tocando em vão sem nada achar

Nada tendo, mas decidido a criar

HTSR/00422101980

Ambigüidade

ADOLESCÊNCIA

O substantivo do meu ser é abstrato
O artigo de minh’alma indefinido
Meu ser é dependente
Ao tempo que é independente

O nome próprio de minha essência
É ser essência apenas
O que a mim é tão comum
Tão impróprio como eu mesmo

Penetro em mim
Minha existência sou eu
E eu sou a existência
Sendo penetrada por mim

De que me vale a nova idéia?
Tal como sou
Neste presente exíguo
Em que só não vejo a mim?

De concreto existe apenas
Meu escrever nesta cultura rala
Em que fui inserido

E em que vegeto

A inconsistência de mim próprio
Me transpõe os poros
Me eleva e sacode
Ma vacila e faz cair

Aonde irei neste sem fim perdido
Neste mar ôco de certezas mortas
Fingidas, afinal, todas as verdades
Que julguei haver construído

Na floresta dos sonhos, dia a dia
Se interna minha razão impensada
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz passo a passo a fantasia

Sou inferior ao que já fui
Sou insignificante ao que seria
Já não me valem incompletas conclusões
Que a si se bastam sem bastar a mim

Incerteza dum mistério
De dúvidas cismadas
É meu ser dentro de mim

Títere do que não sou

HTSR/004120101980

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Idiotice

ADOLESCÊNCIA
A idiotice que me cerca
Me sufoca e me cega
E minha alma sofrega
Daqui não sai nem fica

Se desmorono o meu presente
Meu futuro já é poeira
Meu passado não existe
É tudo tão asneira

A existência mentirosa
À mim se mostrou airosa
A vida e a felicidade há muito passaram
E espelhos vagos as refletiram

Na côr do mundo mundo degradante
Não vi que sou doente
Na idiotice que me rodeia
E tanto me odeia

Toda a ternura que eu poderia ter vivido
Toda a grandeza que eu poderia ter sentido
Nunca achei
No muito que busquei

Como me enterneço de mim
Até choro por mim
Na vida não vi beleza
Nem luz, nem clareza

Os parvos me fizeram sombra
E eu cá fiquei de sobra
Sem tocar, nem sentir
Sem ver, nem ouvir

Em tudo houve um começo que errou
Asa que se prendeu e não voou
Porque estúpidos não compreendem
Não vêem, nem querem

Num ímpeto difuso de encanto
Tudo encetei e nada possui
Hoje de mim só resta o desencanto
Das coisas que sonhei mas não vivi

A obsessão débil de um sorriso
Levou-me à dor do acaso
Transportou-me os olhares de quebranto
Pasmo a sonhos de fausto

A idiotice que me abraça
Cobriu-me de farsa
Já não vivo para sentir
Existo por existir


HTSR/004013101980

Agonia do Amor

ADOLESCÊNCIA

Quando penso nela
Tão viva e tão bela
Fico cheio de calor
Excitando meu coração de amor

Fico tão agoniado
Ando de lado a lado
Desejos penetram minh’alma
E embora se vai a calma

Meu ser alado
Perde-se em poemas
Rosas, azulados
E de todas as formas

Meu coração que palpita
Contrai-se e suplica
Quer sair da alma insatisfeita
Que o prende e sufoca

Não consigo conter-me... choro
Ejaculando amor por poros
Foi só mais uma vez

Entre outras tantas, talvez...

HTSR/003912101980

Sonhar

ADOLESCÊNCIA

A vida para mim é melhor
Sem ser vivida
Deve ser sonhada
Nunca com temor

Não tenho alegria no viver
Mas tenho no sonhar
É ele meu poder
A ele eu vou louvar

Mistério de uma certeza
Que nunca há de se fixar
É o meu sonhar
Minha única riqueza

É no sonhar
Que vejo quem sou
E para onde vou
Sem que me possa enganar


HTSR/003811101980

Amigos

ADOLESCÊNCIA

Amigo? O que é isso?
Ter um amigo?
Como falar disso
Se nem sei o que é amigo?

Inimigos? Sei que os tenho,
Mas... e amigos, terei?
Com eles nem sonho
Nunca os possuirei

Amizade é tão efêmera e fugidia
Que me lembra patologia
Facilmente nos infectamos
E dificilmente saramos

A minha volta todos possuem
Um afeto, um sorriso ou um abraço
Só para mim as vontades se diluem

E não possuo mesmo quando alcanço

Não me lamento
Antes, talvez, até regozige
Se não me iludo hoje
Amanhã não me enganarei tanto

Se muitos sofrem por ela
A mim é indiferente
Como que barco a vela
Ao sabor do vento forte

Amigos? Para os ter
Forçoso me era antes, usufruir
Aquele que eu estimasse sem ter
E lograsse nunca possuir

Só de pensar em buscar
Já me canso e entristeço
Para que os alcançar

Inexistindo o apreço?

HTSR/003711101980

Porque te Escrevo

ADOLESCÊNCIA

Se te escrevo tanto
É porque ainda te tenho apreço
Nada ganho e nada alcanço
Mas exercito o pensamento

O escrever é como o cantar
Quanto mais se canta
Melhor fica o entoar
Exercitando-se a garganta

Escrevendo eleveo o meu pensar
Ainda que não percebas
E cxonsideres minhas linhas bobas
Tão pouco quanto meu falar

Sou o pálido poeta das flores
Que canta a beleza das dores
Fazendo-me de idiota
À quem pouco importa

Como que jogando folhas ao vento
Sei que as letras do meu encanto
São lidas como que pelo rio
Disso me divirto e até sorrio

Ainda que desfolhasse a matéria impura
Ela não ficaria mais pura
Pois já o é em matéria

E assim para sempre ficaria

Foi por ti, num sonho de ventura
Que a flor da alegria consumi
E com ela me sumi
Numa imagem de candura

A tise ergueram meus tristes versos
Reflexos sem calor de um sol intenso
Sonhei tanto de amor
Que não vi na vida o louvor

Cantando rios e flores
Envolvo-me em meus amores
Vejo que não sou insensível
Mas não vejo meu amor invisível

Se eu o pudesse ver
Não amaria a atraente borboleta
Tão imatura em seu ser
E diria a tudo um basta

Quizera dessa colorida comédia
Tirar linhas de proveito
Mas dia a dia
Me vai acabando o intento

Se te escrevo tanto
É porque não sei o que canto
Vou escrevendo e cantando

Enquanto estou amando

HTSR/003611101980

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Escrevendo em Vão

ADOLESCÊNCIA

"Das glücklichste Wort es wird verhöhnt,
Wenn der Hörer ein Schiefohr ist."

Goethe


Minha poesia ingênua
É leve, ondulante e fina
De simplicidade nua
Misto de garça e de menina

Escrevo versos
Tão bobos e tão falsos
Às vezes assim como eu
Por vagarem ao léu

Palavras d’um improviso
Riscos d’um braço indeciso
Atrás do que seduz
Sem guia e sem luz

Gotas de modernismo…
Às vezes de romantismo…
São como um nada
Despertando risada

A vida é assim mesmo
Desprovida de êsmo
Cheia de esperanças
Completadas por farsas

Displicente, trêmula e leve
Descrente minha mão escreve
Coisas que passam

E nem tocam

Invade-me a tristeza indefinida
De coisas quase esquecidas
E no coração sombrio
Sobra-me só o vazio

Assim, escrevo sem amor
E sem filosofias
Meras poesias
Sem vontade e sem ardor

Então, sem manhãs
Falo de coisas vãs
Às vezes em solfejo
Às vezes em arrojo

Fria no meu escrever
Uma lágrima desce
Do meu querer
Que já desaparece

Num mar de não coisas
Cantadas em poesias
De sílabas pendentes

Que se apagam lentamente

HTSR/003509101980

Medievista

ADOLESCÊNCIA

Transportando-me ao medieval
Vejo que não sou tão banal
Pois sinto no medieval
Tudo como tal

Sonhando em deleite
Imagino castelos de enfeite
Enormes pontes elevadiças
Nobres altivos em caça

Há em tudo mais vida
Coisa que aqui nem é tida
Há vontade de perfeição

Com mais força e ação

O que há de mais no mediévico?
Nele existe mais encanto
Medieval é este mundo
Moderno triste e mudo

Nessa época esquecida
Até o amor era diferente
Resultante de uma alma embebida
De grande calor ardente

Habito numa terra distante
Longe daqui e de todos
Longe deste mundo inerte

Cheio de dor e enfado

HTSR/003401101980

Augusto

ADOLESCÊNCIA

Ao amigo Augusto
Que muito tenho tido
Uma mensagem rasa
E sem profundidades

Em busca do êxito
Aos poucos o vamos conseguindo
Fazendo nossa vida rosa
Isenta de superfluosidades

Embora implacável nos persiga
O cruel amargor
Para nós, já é ele um vencido
Que cedo ou tarde cairá

O amor que teu ser afaga
Será um dia triunfador
E livre do enfado

A vitória cantará

HTSR/003301101980

Antes a Natureza

ADOLESCÊNCIA

Não sei o que é a Natureza
Mas, canto-a
Vejo sua beleza
E adoro-a

Se digo que as flores sorriem
É porque sorriem
Se digo que os rios cantam
É porque cantam

Para que mais?
À mim é assim
Só para mim
E nada mais

Não porque julgue haver cantos
Em flores ou rios
E alegrias e sorrisos
Nos mesmos e outros

Mas é porque assim
Torno mais falso a mim
Como é tudo que existe
E até que não existe

É tudo tão falso
Tudo tão metafísico
Que nada alcanço
E cá eu fico

Fico só em mim
Sem crer nem pensar
Sem também esperar
Como que vindo do fim

Há metafísica no nada
Lances do fundo da alma
Só e em calma
Fico sem sonho ou fada

Que grande besteira
Meu cérebro até se empoeira
De ficar tão vazio
E pensar sem alívio

O não pensar
É bem pior que o pensar
As idéias se confundem e se embaralham
Não sei de onde vêm e para onde vão

O bom mesmo é cantar
E até inventar
Criar novas vidas
Sem deusas ou fadas


Por isso canto a Natureza
Vejo nela clareza
Com ela vivo e sonho
E nela fé eu ponho

Constituição íntima das coisas
Sentido íntimo do universo
Mais alguma dessas
E não temos mais universo

Do não pensar o mui pensar
É seu polo inverso
Não há nele vida ou verso
Só há dor e cansar

O mistério das coisas?
Sei lá o que é mistério!
Vejo razão nas coisas
O rsto é com o que cemitério

Para ver razão nas coisas
Apenas olho e sinto
Só e quieto
Sem pés ou asas

O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum
É tudo tão simples e comum
Só de graças e belezas

O que penso do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse nisso pensaria
E mais doente ficaria

Ah... como os mais simples dos homens
São tão confusos e estúpidos
E estão de parabéns
De ciência e técnica vestidos

E eu, pensando em tudo isso,
Fiquei outra vez menos feliz
Dos versos que fiz
Neles eu existo

Porque não cantei a borboletinha?
Quanta graça tinha
Com suas asinhas coloridas

Aqui fiquei eu: com porém e nadas....

HTSR/003225091980

A Chave

ADOLESCÊNCIA

A chave na porta
Lá tão rotineira está
O que me importa
A chave na porta

Seu chaveiro oscila levemente
Braços cruzados, sem nada querer
Observo-o como que dormente
Saberei da vida o querer?

A chave lá está
Tão muda, tão quieta
Não tem vida, nem ação
Só funciona por torção!

Fico a imaginar o abrir e fechar...
Se tudo abrisse e fechasse
E eu pudesse olhar
Talvez não sonhasse

Mas de tanto ver a chave
Começo a dormir suave
Sonho com corações
E suas chaves de torções...

Vejo-os chorosos
Vejo-os melindrosos
Sempre a pulsar

A bater sem parar

Mas lá está a chave
Cada um tem a sua
Para que serve
Ter o coração fechadura?

O coração deve ser aberto!
Acaso é ele objeto?
Se o que sinto é vão
Por que me dói o coração?

Não tenho falta de amor
Mas teria outro sabor
Se pudesse encontrar aberta
A fonte que aquece a vida!

O que choro é diferente
Vem da dor de leis fatais
Que regem pedras e gentes
De instintos reais

Quem desta alma fechada
Tão sublime nos liberta?
O coração da amada?

Cadê , então, a porta aberta?

HTSR /003125091980

Quero uma Poesia

ADOLESCÊNCIA

Escreve uma poesia pra mim
Metafísica ou real
Do bem ou mal
Mas escreve pra mim

Algo de ti me falta
Ainda que amar seja um receio
Disso não tomo nota
E almejo esse vago anseio

Há tanta coisa que sem existir
Existe tão demoradamente
E outras que só por existir

Vegetam tão sómente

Uma lembrança falsa e vâ
Não é mais que um engano
E disto não me ufano
É sem graça e sem manhã

Se isto te parecer um nada
Lembre-se que numa estrada
Como é a vida
Muita coisa é incompreendida

É tão pouco o que desejo
Mas é tudo o que me falta
Só isso me pseudo-basta:

O teu doce solfejo!

HTSR/003024091980

Lembranças e Ilusões

ADOLESCÊNCIA

Toca suavemente, ao piano,
Um lindíssimo improviso,
Levendo-me em engano
A sonhos e sorrisos...

Leva-me longe, em suspiro profundo
Além do que desejo e que alcanço
Lá mui longe, onde do viver me esqueço
E das formas incoloridas do mundo

Vagando não sei por onde
Vejo o que acordado não pude
Esquecendo da realidade da vida
Vejo-a em moldes metafísicos erguida

Lá o choro é diferente
Entra menos na alma da gente
É tudo tão evaporante
Ocorre tão rapidamente

É tudo tão macio, tão leve
Que eu, desajeitado, desiquilibro-me!
Segurar-me de nada me serve
Não há substância e tudo me some...

Que mundo engraçado
É tudo tão disforme...
De nuvens errando...
Que fiz de mim? Perdi-me!

Guia-me só a razão
Não me deram nenhum guia!
Alumia-me em vão?
Mas só ela me alumia!

Como alguém distraído na viagem
Segui por dois caminhos, par a par...
Fui em parte com a paisagem
E em parte comigo – sem sentir nem lembrar

O tempo em que hei sonhado
Quantos anos foram de vida
Quanto do meu passado
Só de vida mentida

Agora o vazio impera
De tudo que eu não era
Tudo foi um improviso

De olhares e sorrisos

Já não me recordo quem fui
Chegado onde estou, não me conheço
O que faço aqui?
No meu próprio caminho me atravesso!

Não conheço quem fui no que hoje sou
Quero me lembrar, mas já passou
Sem matéria não há lembrança
É que nem o esperar...

Como à páginas já relidas volto
Minha atenção sobre o que fui de mim.
E nada de verdade em mim encontro
Não sei se sou princípio ou fim!

Tenho saudades de mim
De onde vim
E porque vim
Não me quero assim

Isso lembra a tristeza
E a lembrança é que entristece!
Dou à saudade a riqueza
As emoção que me aqueçe

O som morto das nuvens mansas
O leve som das águas lentas
Leva não só as lembranças
De imagens nevoentas

Mas em seca conformidade difusa
Leva também a confiança rasa
E a morta esperança
Que nada alcança

Morta não porque tem que ser
Mas porque há de morrrer
No amplo azul vaga e solta
Com meu passado que não volta

Silenciado o piano
Vê-se o branco pano
De ilusões lembradas

Agora para sempre caladas...

por HTSR/002923091980

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Saudades de Ti

ADOLESCÊNCIA

Eleonora, menininha singela
Ajeita-se como Cinderela
Nos lábios sorrisos
E vida nos olhos belos

Leve, breve, suave
Como um canto de ave
És tão delicada
E tão amada

Em poesia és tida
Nos sonhos és contida
Em realidade és perdida

És livre e amada

Morena de olhos amantes
Tão cintilantes
Como penas de diamantes
Tão vivos, tão brilhantes

Fito-os agora com tristeza
Lembro-me de outrora
Quando não havia estranhezaa

E ias alegre por aí afora

Te vi externamente
Não te penetrei em mente
Tua alma não senti
Teu coração não ouvi

De primaveras és feita
Mas o inverno te rodeia
A vida em ti devaneia
Na graça em que és solta

Lembro-me com alegria
De quando para mim
Eras como o jasmim

De quando sempre te via

Sinto saudades dos momentos
Momentos que não possui
De ébrio que fiquei

Da monotonia passar aos faustos

HTSR/002821091980

Sonhos Finitos

ADOLESCÊNCIA

Eu tenho os gelos polares
Tenho as neves alpinas
E tenho as pérolas finas
Em sonhos alegres

Eu tenho as algas marinhas
Tenho as orquídeas melindrosas
Tenho as florestas grandiosas
Tão belas e portentosas

Eu tenho a melancolia
E tenho a alegria
Tenho os sons da praia
Nos meus sonhos de poesia

Tenho o amanhecer dos dias
E tenho a altivez dos maias
Tenho as tempestades revoltas
E tenho o domínio das feras

Tenho a vida que não há alhures
Tenho o brilho dos olhares
Tenho, ainda, cintilantes

Os mais belos diamantes

Eu tenho os meus horizontes
Rasgados, amplos e abertos
Tenho a extensão dos desertos
E o topo alvos dos montes

Tenho a alegria e a dor
E da vida o calor
Dos reis tenhos os castelos
E das flores os seus prados

Tenho tudo e não tenho nada
É tudo uma ambição
É tudo um nada
Uma feliz ilusão

Do nada que tenho
Nada ganho
Almejo o querer
Para não padecer

Tenho também o sofrer
E ele é bem real
Existindo como tal

Nunca o irei perder...

HTSR/0027 19091980

Nascendo e Vivendo

ADOLESCÊNCIA

É primavera. A minha mocidade
Abre as asas douradas à alegria...
Que triunfante sol! Que jovialidade!
No peito, o coração dá bom dia!...

Sim... belo dia! Dia festivo!
Em êxtase às nuvens me elevo!
O grito, ainda inocente, de ser filho
Soa em meu coração, e de meus olhos

A primeira lágrima desliza
De tantas outras que ajuntar iria.
Da vida bela e vivaz
Fui eu conhecer o mundo falaz

Não maldigo o rigor do destino
Valhesse-me o atino
Choro da dor
De seu hediondo furor

Da ferocidade da existência
Do sofrer de sua carência
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada

Mas existirá esperança?
Tem esta substância?
Cadê a esperança?
Será só essência?

O sonho da alegria
De que um dia viria
É uma hora feliz, aliada
Que não chega nunca em toda a vida

Não tenho esperança
Em minha consciência
Não a vejo

Portanto não a almejo

Da infância já passei
Matéria não achei
Do triste esperar
Estou no enfastioso cansar

Cadê a felicidade que supus?
Cadê a fé que nela pus?
Dos horizontes azuis
Agora emanam lastimosos uis

De meus belos horizontes
Fugiram-me todas as fontes
É tão pouco o que desejo
Que nem é desejo

Quando um amigo busquei
O mundo deserto achei
Óh, como chorei
Como chorei

Só tive contentaqmento
Quando ouvi a voz do vento
A estrela do meu destino
É tão sem tino

Eclodindo a razão da tristeza
Vejo nela beleza
Em nada há razão
É tudo tão vão

De viver tanto
Não sei se existo
Sei que vivo

Mas o que é isso?

HTSR/002617091980

Uma Festa Triste

ADOLESCÊNCIA

Repicam os sinos e os fogos
As trompas e os trompetes
Soam com flautas e oboés
Alegres e gloriosos

O dia é festivo
O sol está faustoso
Tudo é gostoso
E de colorido vivo

O amanhecer é mui belo
De esplendor redundante
No fundo o tímpano e o fagote
Da alegria e vida fazem o elo

A borboleta a voar
O pássaro a a cantar
Tudo a acordar
Quero cantos entoar

Em adágio começa a manhã
É seu primeiro movimento
Passa em seguida ao moderato
Não são coisas vãs

Não sei se sou infeliz
O lago nada me diz
É espectador tímido
Igual a mim, perdido

Tenho dito tantas vezes
Quanto sofro sem sofrer
Que não sei se vou sofrer
Ou se já sofro talvez

Boiam leves, desatentos
Como no sono dos ventos
Boiam como folhas mortas
À tona de águas paradas

Meus pensamentos de mágoa
Por que me lamentar?
Deveria correr, pular

Como os peixes da lagoa

Lá fora existe festa
Cá dentro a música continua
Pela estreita fresta
Espia minha alma nua

Pequenos e ágeis roedores
Parecem executar um Musette
No lago peixes corredores
Assemelham-se ao regente

Tento a festa acompanhar
Não consigo, porém, um tom entoar
De minh'alma muda e triste
Por que isto existe?

Comtemplo o lago suave
Que uma brisa estremece
As árvores a sacudirem
E suas folhas a cairem

Não sei se penso em tudo
Ou se tudo me esquece
Nada me aquece
A luz, o sol e tudo

Falta-me ela
Sim, ela... o complemento
Que revigora meu intento
E me tira da mazela

Os sinos repicam
A música chega ao fim
A verdade vem enfim
Os sonhos se vão

Quero-os de volta
A verdade é morta
São coisas vestindo nadas
Pós remoinhando nas portas

Quero-os de volta
Como o sono dos ventos
Vestígio do que não foi

Sei que não existe, mas não dói

HTSR/002516091980

Sendo Alguém

ADOLESCÊNCIA

Se eu, ainda que ninguém,
Pudesse ter, sobre a face,
O clarão fugace
Que aquelas árvores tem...

Se eu, que não sou ninguém,
Pudesse ter o ser
E me enobrecer...
Mas não sou ninguém...

Tão bom ser alguém.
Tão bom ter vintém.
Sinônimo de posição?
Estranha sensação...

Que brisa fragrante
Me vem, neste instante,
Daquelas árvores
A balançar folhas suaves...

Tudo que faço ou medito
Fica sempre na metade.
Querendo, quero o infinito!

Fazendo, nada é verdade!

Por querer amar, encontrei dor.
Tirou-me da vida o vigor!
Por não ser alguém
Fiquei ainda mais ninguém!

Ah! Se não fosse ninguém!...
Teria da vida o amor!
O gostar daquele alguém
Que tem em si valor!

Se eu, ainda que ninguém,
Pudesse ter a alegria...
Aquela que não esfria...
Então, mais que ninguém,

Seria feliz,
Ainda que por um triz,
Ao menos para viver

Longe do sofrer...

HTSR/002415091980

Caminhando em Silêncio

ADOLESCÊNCIA

Caminhando em silêncio
Vou pela vida.
De mansinho,bem mansinho,
Para o mal não despertar...

Pisando em surdo,
Vou eu em cuidado
Fazendo, a cada instante,

A doçura mais importante...

Timidamente e receioso
Prosssigo com cautela.
O que virá além?
O futuro é uma icógnita!

Caminhando em silêncio,
Com o querer envolto,
Não almejo o novo dia

Espero este terminar!

HTSR/002309091980

Vida

ADOLESCÊNCIA

Vida, óh vida!
Onde estais?
Por que não respondes?
Onde estais, onde estais?

Onde está tua essência?
Cadê tua graça?
Cadê tua luz?
Óh vida, minha vida!...

Porque te escondes?
Mostra-te como és!
Mostra-te, óh vida!
Quero achar-te!

Nas ruas escuras,
Há soturnidade,
Há melancolia
E estranho bulício!

O céu parece-me baixo...
Asfixiante neblina me envolve...
O gás extravado me pertuba!
A cor é insépida e fugidia!

Sinto que te perco!
Exausto já estou.
Não posso procurar-te!
Onde estais, onde estais?

Quero-te, óh vida!
Não posso te perder!
Sem ti não sou
Nem posso ser!

Amada existência
Substância o meu ser!
Quero-te verdadeira
Pois almejo o viver!...


HTSR/002204091980

Eleonora

ADOLESCÊNCIA

À ti que não entendes.
À ti que não és humana.
Acaso te ofendes?
A dor de minh'alma emana!...

Óh mentalidade atroz!...
Símbolo da Inconpreensão!
De meu amor, veloz,
O desprezo toma a intenção

Por trás de grande doçura
Encobre-se o infando ser.
A carência de luz e ternura
O querer leva a perder!...

Em teu seio infecundo
Habita o infausto coração...
No fundo a alma sem noção

Do mundo, da cor e tudo!...

De graça cândida
À inépcia passaste!...
Em miasmas perdes-te!
Que triste vida!...

A afeição falaz
Te diverte frivolamente.
Não sentirás demente,
Teu fim mordaz!

Como fui amar-te?
Como fui gostar-te?
De cantar-te

A vergonha me parte!...

HTSR/002124081980

Vestígios

ADOLESCÊNCIA

"Ist einer Welter Besitz für dich zerromer,
Sei nicht in heid darüben, es ist nichts;
Und hast du einer Welt Besitz gewomnen,
Sei nicht erfrent darüber, es ist nichts.
Vorüber geh'n die Schmerzen und die Women,
Geh'na der Welt vorüber, es ist nichts."

Anwari Soheili

Se a nós desfez-se a posse de um mundo,
Para que nos importarmos?
Pois nada é!

Passam os dias e tudo.
Nem contá-los podemos.
Mas isto nada é!

O amor passa-se mudo.
Será que o temos?

Ou falta-nos fé?

A tristeza em fundo,
No coração apertamos...
O que isto é?

Assim corre a vida em surdo.
Não nos lamentemos.

Ela nada é!..

HTSR/002006081980

Poesia

ADOLESCÊNCIA
Poesia? O que é poesia?
Não há poesia na poesia!
A poesia está na vida.
Em alhures não é tida!...

A vida está no mundo!
Ele lhe constrói!
Ele lhe destrói!

Em canto ou dor, tudo, tudo...

Ou tudo é dor
Ou tudo é canto!
Meio termo é desencanto!
Nele não há calor!

Se a poesia é cantada,
Nela, a vida é tida.
Se é chorada,

A morte lhe é contida...

HTSR/001903081980

Na Chuva

ADOLESCÊNCIA

Chove lá fora.
Milhões de pingos a cair...
Sonhos de outrora,
Ao coração vêm pungir...

Chove lá fora.
Milhões de pingos a cair...
Hora após hora,
Estão no chão a cair...

Sonhos de outrora
Surgem sem aurora...
Também sem fim...

Por quê assim?

Um pingo, outro pingo...
Não há vento...
Mas que digo?
Há intento?

Gota após gota
Na terra a sumir...
À alma esgota
Muito pedir...

Como há lama
Na vida turva!
Vai-te, óh chuva!

O sol me chama!...

HTSR/001829071980

Êxito

ADOLESCÊNCIA

Anômalos e amorfos!
Incríveis monstros!
O que sois , óh sêres?
Por que não o dizeres?

Sois sinistros!
Sois feios!
Óh monstros! Que quereis?!
Dizei-me! Que quereis?!

Fora repelentes!
Da morte equivalentes!
Longe de mim!

Do que estais a fim?

De minha vida?
Óh vermes!
Sêres infelizes!
Que triste lida!...

A mim não podereis vencer.
Está mui longe do vosso querer!
Em dor apodrecer?
Não a este sofrer!

Não vou cair.
Já vou partir!
Tenho o querer.

Eis aqui o poder!...

HTSR/001729071980

O que há?

ADOLESCÊNCIA

Não há calor.
Não há amor!

Para que romance
Se não há doce?

Acaso te aprova
Esta peça parva?

Desejaria, se pudesse,

O prazer de quem aquece.

Deliciar, amar...
Gostar, gozar...

Mas há o querer
Em teu ser.

Óh musa estática!
Por que não, enfática?!

Haveria querer!

Haveria ceder...

HTSR/001627071980

Apocalipse

ADOLESCÊNCIA

Cai o anoitecer.
Na alma o terror!
Pela chaga aberta
Vejo-lhe o temor!

Em estremecer,
Toma-lhe corpo a dor!
À vida intenta!
Cai o esplendor!

A se contorcer,
Lívido sem côr,
A morte atenta

Espera-lhe termo por.

HTSR/001527071980

Não Ser

ADOLESCÊNCIA

Do ser ou não ser,
Não quero ser!
Para que ser,
Se não há o que ser?

Meu ser não é mais ser
Há muito o deixei de Ter
Pois o meu sofrer
Levou-me, apenas, ao perder.

Sómente Ter,
Para não ser?
Sómente ser,
Para não fazer?

Então, para que ser?
Para que ter?
Para que fazer?
Por que não, morrer?...

Que tive ao nascer?
Que tive ao crescer?
Que tive ao querer?
Nada! Só o doer!...

O doer da dor infinda
Que agora a minh’alma finda
E sem querer, ainda,

Morrer eu vou em vida!

Desejaria sumir
Para não promiscuir!...
Por que não, logo cair?
Ou do céu salvação me vir?...

Confusão é padecer!
Não quero o sofrer.
Almejo o vencer
Ou, então, falecer...

Viver é querer.
Não ter é perder.
Quanto mais não ter
Tanto mais perder!

O muito perder
Leva ao não querer!
E o não querer
Leva ao não ser!

Vejo-o num mal-me-quer.
Sei que não me quer!
Retrato de LúciferAntes te perder!


HTSR/001427071980

Mêdo

ADOLESCÊNCIA

Vejo-a a sorrir
Por que não vir?
Porque vir é pedir
E pedir significa cair

Mas, pedir amor?
Cair em amor?
Para que horror?
Chega de temor!

Venha, por favor!
Venha sem torpor!
Há em ti calor!

Por trás, grande vigor!

Penhor?
Não há penhor!
Com rigor
Não há amor!

Sem favor,
Sem penhor,
Só o amor
Em fulgor!


HTSR/001327071980

Alucinado

ADOLESCÊNCIA

Que varonil encanto
O corpo estremece em desejo
Mas onde está o objeto
Fonte de teu anseio?

Ente desconexo
Como podes gostar
Sem qualquer nexo
Do não amar?

Não amas nada
Não queres nada
Sómente o vazio profundo

Do vácuo infindo!

Para que Ter
Se não podes amar?
Para que querer
Se não podes gozar?

Acaso tens tino breve?
Ou teu corpo é infantil?
Sedução, eis o que houve.
És tolo e débil!

O mundo é parvo
Não há de compreender
Teu triste estorvo

Pois nada há para haver.

HTSR/001226071980

Ambivalência

ADOLESCÊNCIA

Querer? Não há Querer.
Só há o Ter,
Mas sem obter!

Amar? Não há o amar.
Só há gostar
No não odiar.

Querer para quê?
Amar para quê?
Se não há O quê?

Para que desejar?
Se não há prazer?
Para que gozar

Quando inexiste o fazer?

Não há volúpia.
Não há agrado.
Tem é dor que expia.
Sim, encanto malogrado...

Do não querer,
Do não fazer,
Há o invejar,

Peçonha do amar...

HTSR/001126071980

Vácuo

ADOLESCÊNCIA

Sofrer? Para que sofrer?
Só há razão no sofrer
Quando na existência há prazer
Senão, para que viver?

Existir para sofrer?
Não me vale o padecer
No meu não querer
Mais me importa morrer

Não mais vou tolerar
A dor no meu amar
Pois na grave doçura
Confunde-se vil loucura

Alegria hoje passada
Ventura nunca alcançada
Para se Ter

Preciso é não ter

Do meu querer supremo
No coração a pungir
Foi aflição surgir
Em seu cruel sadismo

O drácula do sentimento
A minha alma extirpa
Em vivo intento
Mas não estampa

No vazio infindo
Em dormente mentira
Ao têrmo procura
Meu ente alienado

Desejaria ilusão
A preencher meu sofrer
Porém não existe ilusão

Na ausência do bem querer

HTSR/001026071980

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ilusão

ADOLESCÊNCIA


A vida é de ilusões
E de ilusões é feito meu ser
Porque meu ser é ilusão

Em ilusão vivi
Em ilusão morrerei
Porque de ilusões me nutri

Iludido, ilusionei
A outros que ilusionados
Também me iludiram

Em desilusão escrevo
Falando de ilusão
Sem saber o que é engano

E por não querer saber
Tudo passou-se numa mentira

E em pantomima finda-se minh’alma...

HTSR/000904071980

Fraqueza

ADOLESCÊNCIA

Vil delírio
Leva-me ao martírio

Como pode ser tão fraca a carne
Para que cometa tão grande agrave

Torpe luxúria
O fado dos pecados não me pesaria

Se a ti porco pecado
Resistisse meu débil corpo

Minh’alma a apodrecer
O castigo espera sem temer

Anseia pela vingança

Que deve a ti, oh chaga imunda!

HTSR/000802071978

Sede de Vingança

ADOLESCÊNCIA

Cardos, espinhos e dor...
Eis tudo que vejo na vida,
Numa existência lúdrica,
Preenchida de fétido odor.

Humanidade infame!...
Que fado desumano!
Tentou a vida tragar-me,
Débil e ufano!...

Lançando-me a pobreza,
Mísera tristeza
Ao meu coração varou!
Oh, que infeliz que sou...

Lágrimas, suor e sangue
Perseguem a mim já exangue
E num macabro culto,
Procuram levar-me ao túmulo...

A morte... fúnebre serpente!
Que torvo olhar! Que gesto de demente!
Que buscas coisa impudente,

Demônio faminto, pelo mundo errante?

Pensas que com minha vida,
Poderás servi-la de comida,
À alma imbecil,
Dos que habitam este mundo hostil?

Torpes e imundos que são,
De profundas chagas proveram-me o coração,
Atirando-me a masmorra do inferno,
Onde sofro delírio eterno...

Não maldigo o rigor da iníqua sorte,
Por mais feroz que seja e sem piedade,
Arrancando-me a vida e a felicidade
Quando a rondar-me está a morte...

Porém a dor, que me excrucia e me maltrata,
A dor cruel que o ânimo deplora
É ver de pé lívidos canalhas

A rir-se de minhas migalhas!...

HTSR/000717061978

Bernadet

ADOLESCÊNCIA

Bernadet, nome doce
Que leve vento trouxe

Um rosto róseo e meigo
Que me inspira tão grande apego

Bernadet... nome que alegria nos traz
Numa confiança que satisfaz

Franqueza e sinceridade

É seu lema de honestidade

Está sempre a sorrir
Como um jardim a florir

Bernadet, nome doce
Que num relance

O vento ao meu alcance

Suave me trouxe

HTSR/000607061978

Em alto Mar

ADOLESCÊNCIA

Estamos em alto mar
Nuvens escuras rondam o ar
Forças estranhas no horizonte
Rugem como se desabassem os montes

Num pérfido perfil
Que aos Deuses faz tremer
Envolve a mim, desgraçado vil
A potestade! Numa áurea de dor e sofrer

Turbilhões impetuosos
De maneira horrenda
Parecem mostrar imperiosos
Quem nos mares manda

A tempestade implacável
Abre sobre seu negro véu
Riscos de glória cruel
Ameaçando mandar-nos ao léu

Oh, musa inspiradora
Quem salvará nosso barco banal
Da força demolidora
Das ondas do mal?

De modo sagaz
Encobrem nosso barco
As águas que o vento traz
Num grande e medonho arco

Já nos engole o mar
Estamos a perecer
Onde iremos aportar

Até o amanhecer?

Frio e cruel está o oceano
E nós entregues ao abandono
Em vão clamamos por socorro
Num fúnebre e triste coro

Oh, Senhor Poderoso
Que as águas pode acalmar
Livrai do fim desastroso
Aqueles que não podem aos mares enfrentar

Eis que as estrelas se calam
Ao som das ondas que resvalam
Proteja-nos, oh Santa Divindade

De tão rude tempestade
Aplacai o tufão
Que ameaça a todos afogar
Sobre o turbilhão
Que a nós pode matar

Guia-nos a um porto seguro
Livrando deste apuro
As vidas inseguras
Dos que estão às escuras

Traga-nos de volta o amanhecer
Que a noite como cúmplice fugaz
Retirou de nosso ver
Para dar a tempestade falaz

Dai-nos a nívea paz
Que levaram os rudes ventos
Ocultos de teu olhar capaz

Para os conventos infindos

HTSR/005 29041978

Tempo de Natal

ADOLESCÊNCIA

É tempo de amor
Ë tempo de alegria
Ë tempo de paz
Ë tempo de Natal

Tempo sem dor
Cheio de aleluias
Tempo fugaz

Tempo sem igual

Natal... tempo de dar
Tempo de amar
Tempo de receber
Tempo de sorrir

Tempo de louvar
Tempo de cantar
Natal... tempo do alvorecer

Tempo do porvir

HTSR/0004121976

Sonho de Amor

ADOLESCÊNCIA

O som da cascata misturava-se
Ao do violino, suave e doce
Que de uma casa distante provinha
Dando forma a uma melodia

Tão pura e celestial
Tão sinfônica e aromal
Que impossível para mim seria
Descrevê-la nesta poesia

O coral dos pássaros
O borbulhar das águas
O vento das folhas
O estalido dos galhos

Junto ao som do clarim
Criam em mim
Um espírito
Tão sedento

Que deixo-me envolver
Pela auréa de místicos encantos
Que me cercam, para adormecer
Sobre a farta relva

Acalentado pela natureza
Eleito ao perfume do jasmim
Sonho com aquela que para mim

É como a vida

Vejo-a entre as flores caminhar
Cabeça ereta e audaz
A iluminar-lhe a tenaz
Está a beleza exemplar

A brisa suave e morna
Ao levantar-lhe a fímbria azul
Do vestido, envolve-a
Numa aúrea de formosura anil

Sua graça sem par
Suas formas celestiais
Tão bela a tornam
Quanto as maravilhas divinas

Graciosa, a sorrir, vejo-a deslizar
Sobre o verdejante tapete
Que molhado do lúbrico orvalho
Ainda se encontra

Vejo-a ainda meiga e suave
Chegar-se a mim
Em vivas flamas do olhar
E com seu ósculo ardente

Balbuciar-me doces palavras
Provindas de um cálido amor
Que brota de sua formosa alma
Dona de um puro e meigo coração


HTSR/000323031978

Adeus

ADOLESCÊNCIA
Adeus, hora ingrata
Indesejada por todos nesta vida.
Ao chegar, coloca em cada olhar
Uma lágrima suplicante,
Em cada garganta
Um soluço profundo
E, em cada coração
A semente da saudade.
Deixando na alma de quem fica
Uma esperança incerta.
E, na alma de quem parte

O anelante desejo de voltar...

HTSR/000226071977

Patrícia

ADOLESCÊNCIA

Patrícia...
Um nome, uma carícia

Quando sorrindo, teus encantos me cativa
Teu perfume me enleia e fascina

Nos teus gestos de graça
Grave doçura me abraça

Óh Patrícia entorpecente amor
Me amarás com ardor?

És o anjo, o astro, a rainha
O amor, a alegria minha

Místico e querido ser

Tua imagem à minh'alma faz estremecer

HTSR/00011977