Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sem Título

JUVENTUDE

Quando julgava já dormir meu amor
Eis que ele se acorda cheio de ardor.
E, como um bravio mar,
Dá, de sua graça, o ar!

Balanceia-me, fortemente, o coração,
Encanta-me a alma com sua poção,
Leva meu cérebro a delirar,
E inspira-me a veia do poetar.

A ficção ímpia e incrédula
Ataca-me de novo em fantasia
Levando-me a sonhar, em poesia,
Sutilezas de uma fé singela

E, como que ofuscado pela luz,
Prendo-me ao papel que me seduz
A ti em êxtase escrever
Por maravilhado te querer

Deixa-me cantar teu rosto querido
Teus lindos olhos de puro mel
Teu sorriso tão amável
Que torna a mim encantado

Deixa meus dedos em ti tocar
E em teu colo os descansar
Deixa-me sonhar contigo
Num mundo doce de afago

Teus cabelos negros me enebriam
Tuas faces rosadas me estonteiam
E o licor de teu olhar

Enche de sabor o meu amor

Sinto-me desmaiar de ventura
Ao teu aroma de frescura
Ah... cândido perfume

Que a alma estremece-me

Ao dormir na noite morna
Sinto teu leve semblante
Que a meu sonho adorna
Tão doce e languidamente

Acordo palpitante... delírios!
Te procuro na ilusão
Chamo teu nome em vão
Em meu peito... soluços!

Quero te apertar em meu peito
Sentir teu acalanto
Me envolver em teus abraços
Te aquecer em meus braços

Quero teus lábios beijar
Seu sabor desfrutar
Em tua linda formosura
Quero afogar minha loucura

Se a maciez de teus seios
Sentisse em mim, então
Seria o clímax de anseios
Há muito almejados, senão...

Num gozo que me sufocaria
Meu amor transbordaria
Feliz, então, me tornando
Em algo que vivo esperando

Nesse dia sem igual
Seria minha felicidade final
Não poderia haver outra maior

Do que sentir em mim teu amor

HTSR/009203101982

Sem Título

JUVENTUDE

“Melhor serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só, pois, caindo,não haverá outro que o levante”.

Eclesiastes 4: 9, 10.


Melhor serem dois do que um.
Se um cai, o outro o levanta.
E deles, chorando um,
O outro o acalenta.

Melhor serem dois do que um.
Pois num minuto hostil
Tudo se torna mais fácil
Se forem dois, e não um.

A confiança é fortalecida
E a esperança é renovada,
Quando se tem consigo

A mão presta de um amigo.

O soar de um duplo caminhar
Parece ao medo afugentar.
E, nos momentos vacilantes,

Tornamo-nos desafiantes.

Quando, em horas de incerteza,
Nos abatemos em tristeza,
Uma voz terna e calma
Nos reconforta a alma.

E quando, pessimistas, olhamos o futuro além,
Nada como um conselho otimista d’alguém,
Que bondosa e humanamente

Nos queira ver bem, somente...


HTSR/009101101982

Sem Título

JUVENTUDE

“In memorium” dos meus amores...

Certas estrelas coloridas
De coloridas que são
Inspiram-nos idéias desvairadas
Atormentando-nos a razão

De tão longe que brilham
Parecem que estão confundidas
E de tão longe que ficam
Difícil está vê-las separadas

Seus brilhos, ora fugazes, ora fortes
Misturam-se de instantes em instantes
No intermitente crepitar
Do seu inconstante luminar

Eternamente solitárias
Nas grandezas interplanetárias
Numa existência surdina
Aos nossos seres ilumina

E a emoção que ninguém ignora
Vem dominar, senhora
A voz sumida da alma

Que já não se encontra em calma

A cada piscar de uma estrela
Responde um palpitar do coração
Que extasiado pensa nela
Com uma idéia longe da razão

Idéia fora do tempo e dos espaços
Onde vivem homens e estrelas
Idéia d’um mundo de luzes e abraços
Livre de questões e seqüelas

Questões que repetem num eco coral
Serem as idéias um sonho de cristal
Que a um som mais forte entoado
Logo rompem-se de triste modo

E, entre os cristais quebrados,
O brilho das estrelas se reflete
Espalhando por diversos lados
Nossa felicidade de instante

Num instante de luz, apenas
Como no piscar das estrelas
Nossa felicidade existiu com elas

Acendendo-se e apagando-se, apenas...

HTSR/009024091982

Sem Título

JUVENTUDE

Num minuto as ondas nascem e morrem,
Mas o pensamento pode eterniza-las.
Em momentos, as ilusões nos acodem,
Mas o viver pode dispersa-las.

Durante a existência é muito o que sonhamos
Mas ao final da jornada pouco é alcançado.
E quantas vezes grandemente nos enganamos,
Com aquilo que pensávamos ser, não sendo?

Áspera é a terra e árdua é a caminhada
Nela o tempo vai passando...
Os cenários vão mudando...
E outros sabores vai tomando a vida.

A cada porta que nos abrem,
Nova é a surpresa dada.
E com ela se esvaem
Nossas suposições desacreditadas.

Porém a infeliz teimosia nos persegue
E loucos, apegados em nosso conhecer,
Na incerteza, ainda que caro se pague,
Refugiamo-nos, sem saber o que fazer

Divagando, em trevas pisando,
O nosso passo incerto
Nos leva ao deserto
Dos pensamentos infundados.

Quando entoada uma voz amiga,
Mesquinhos adulteramos os sentimentos.
E ainda que fosse a mão de um anjo oculto,
Sem hesitar, lhe daríamos a resposta amarga.

A frivolidade das interpretações
Corrompe a nobreza dos sentimentos.
A má conotação dos fatos
Tornam torpes as emoções.

A cegueira de olhos velados
Dificultam as relações terrenas.
E, por vezes, corações magoados
Consomem-se em gangrenas...

Ah, o gosto da vitória teria melhor sabor
Se o esforço para alcança-la
Fosse dividido num sadio labor
Por aqueles que não querem perde-la

HTSR/008926061982

Sonhando

JUVENTUDE

Perdi-me, outra vez, delirante a sonhar
Quando num gesto, de querido intento,
Cedeu-me tu, com tão doce encanto,
Gotas rejuvenescedoras de teu olhar

Do gesto ameno e brando
Meu coração se fortaleceu
E louco, como que borbulhando
Meu amor, efervescente, renasceu

Sonhador, votei meus pobres dias
Ao devaneio inalcançável desse amor
De modo que a meu peito embalas
Ao menor ato teu de calor


Se tu soubesses que lembranças felizes
Despertaste em meus pensamentos nesses dias
E tudo por carinhosa pareceres
Às minhas insensatas fantasias!

Palavras amigas trocamos
Piscadelas enamoradas no uniram
E leves sorrisos soltamos
Como aqueles que se amam

Em conseqüência letras amorosas escrevo
Sob as delícias inspiradoras desse enlevo
Sonhando em teus lábios com a doçura

E em teus olhos com a candura

HTSR/008830051982

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Convalescença

JUVENTUDE

No pobre leito teu, desfeito ainda
Aponta a febre que não dorme
E tu lânguida na noite te debates
Em vãos delírios anelando a vida

D’um vivo carmesim dessa corola aberta
Numa cinzenta nebulosa és desperta
Te assalta um espírito sinistro
Abraçando-te a alma como um Nero

O encanto de teu sonho se evapora
E se vão as nuvens néctares de ventura!
Numa conspiração o destino tirou-te o mundo
Aquele de que gostavas e te foi surdo

Eis tu, agora, errante a vagar incerta
Como infeliz pagão amaldiçoado
Procurando quem lhe reverta
À um bom momento já passado...

Enquanto os pesadelos escurecem a mente
Na cama teu corpo indolente
De tão vivo, tão rosado
Vai tênue embranquecendo

A cruel doença te deseja e te possui
De nada adianta entoares tristes uis
Pois a doença é cega e surda
Também não te fala, pois é muda

Numa quase roxa miragem
Vês a ventura além
A esperança move-se no espaço

E arrimas o fraco passo.

Seria melhor voar
Os ares rápido singrar
Pedes aos deuses asas
E eles te dão asas

Teu ser move-se a sacudir loucura
A ganhar mais e mais altura
O roxo visto do elevado
É algo mais diáfano, mais rosado

Ardentes gotas de licor dourado
Caem do sol já perto
E tu, como que desmaiando,
Vês a luz clarear teu peito

Aí tantas visões se passam
Que se misturam
Em teu palpitante ser
Numa aura de sofrer e prazer

As sombras do amanhã
Quando ressurges dourada
Morrem todas na manhã
Que trazes iluminada

Os tolos poetas do spleen
Dizem à tua sorte amém
Esquecendo o que já foi dor
Deixam ao sofrer, bolor...


HTSR/008714051982

Minha Cama

JUVENTUDE

Ah que saudades de minha cama!
Da minha cama que me ama!
Onde dormia tão docemente
E sonhava tão tranqüilamente...


HTSR/0086-1982

Haja Saco

JUVENTUDE

Suportar o insuportável
Eis aqui a questão
Numa aula sem ação
Haja saco tão maleável

Sai aula, entra aula
Todas, coisa tão tola
Não porque assim tem que ser
Mas porque assim as fazem parecer

A questão é ter paciência
Ou, como se diz sem paciência,
É ter saco resistente

E haja saco que agüente!

HTSR/0085-1982

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Estafa

JUVENTUDE

Que chatice é meu quarto de estudos
Passo horas e horas a contragosto
Estudando, estudando sem descanso
Esquecendo-me de poetar e de sonhar

Entre tantos, na estante abandonado
Empoeirado, lá está meu livro romântico
Jogado à sina do descaso
Por essa mania maldita de estudar

Chega de Patologia! Chega! Chega!
Vem tu, agora,
Vem cá querido livro
Vem aos meus sonhos acalentar

Enche meu coração de doce inspiração
Dá-me a liberdade nos livros perdida
A amada diáfana faz-me de novo encontrar

E em seu amor, ávido, deleitar-me

Ah, meu livro, alivia minha mente
Livra-me das enjoadas sabatinas
Mostra-lhes, em pessoa, o diabo
E a mim, cabelos e pupilas de mel

Meus queridos poemas empoeirados...
Nesta circunstância agravante
Quero novamente ressuscitar-vos
E meus devaneios satisfazer

Sílabas e versos apaixonados
Revivamos, sedentos, nossos desejos
Para, juntos, nesse frenesi

Saciarmo-nos na arte do sonhar

HTSR/008414051982

Sem Título

JUVENTUDE

Um nevoeiro ainda que esparso
Se confunde em minha visão endoidecida
E vejo fundir-se numa só figura
As imagens de meu sonho liberto

Nas notas tímidas d’um compasso
Diviso minha ânsia musicada
E de pasma minha mente se embaralha
Assim como tudo que me é de resto

Descontinuamente, instável, flutuante
Vagueio no entender d’uma filosofia
Buscando incrédula ou beatificamente
Sei lá o quê num porque longínquo

Divago em minha tese inconsistente
Mesclada às minhas fantasias de ironia
Introduzindo ideais mutantes
Num concluir que me é inócuo

É pela dúvida da verdade
Que me acresce o nevoeiro
Fecundador de suposições
Que me atiram ao contestável

Atormentado em tosca relatividade
Sinto até o inodoro
E fertilizo fúteis ficções
Sobre o que é inalterável

Imagino que um vento espectro
Soprou dúvida sobre o Universo
E noite fez-se no saber
Que de claro, escureceu

Eis a razão lógica do encontro
Motivado em firme compasso
Buscar o pleno conhecer
Do que não se respondeu

Olhando uma simples flor
Lhe percebo mais do que a fragrância
Do silêncio glacial que lhe paira
Estende-se a mim um alo de consciência

Andando em nevoeiro. Indolente,
Ouço o protesto da existência
E a dor da evolução me esbarra
Cobrando-me da ida inocência.


HTSR/008319031982

domingo, 29 de novembro de 2009

A Borboleta

JUVENTUDE


Entre o verde andava e nele se escondia
Boêmia nele comia e nele crescia
Feia e rastejante, odiada por uns
E desejada por outros, foi lutando

Buscou a vida em cada dia
Pelas plantas subia e descia
E não esperando bem algum
Aguardou que o tempo fosse passando

Chegou o dia em que parou
Lenta se enclausurou
Sonolenta repousou
E mais uma vez esperou

Muito foi o tempo que passou
Em seu casulo onde se isolou
Muito foi o perigo que enfrentou

Nas horas e minutos que aguardou

Chegou porém o momento almejado
E a espera foi recompensada
No que se transformou a lagarta
A todos deslumbrou

Fora do casulo abandonado
A larva era renascida
E à colorida mata
Mais cor acrescentou

Como borboleta vôo alçou
Elegante e bela se elevou
Alegre e sedutora
Dos olhos fez-se namorada

Um novo mundo lhe nasceu
Entre as flores que habitou
E como sinfonia dançante

Trouxe mais vida à vida

HTSR/008204021982

O Tempo

JUVENTUDE

A magia do tempo fertiliza-me a memória
Adoça-me os aspectos
E ilumina-me o cérebro.

Retornar no tempo, como poderia?
Relembrar momentos...
Desaparecer como um espectro...

Revivo os ensejos de outrora,
Vitórias e fracassos
Que me construíram.

Aqueles momentos das horas
Que ficaram em minhas pegadas
Que há muito se apagaram...

Me envolvo na teia dos segundos,
A lentidão dos minutos me acolhem,
E eu somente sonho...


Escuto em meus ouvidos
Sons que não mais se ouvem,
Numa realidade que só eu suponho.

Revivo verdades e inverdades,
Fico de novo enamorado
E chego a soluçar!

Mas realidade é realidade,
Não vivo no passado,
No presente é meu lugar.

E ora triste, ora encantado,
Ou apenas espantado ou sorrindo,
Deixei meus longínquos dias...

No tempo que é passado...
No meu envelhecido...

Na poeira de qualquer magia...

HTSR/008127011982

Questão de Querer

ADOLESCÊNCIA


Não basta abrir a janela
Para ver bichos e gente
Não se precisa ser crente
Para se carregar uma vela

Não ser cego não é o bastante
Para árvores e flores ver
Não é suficiente ser inteligente
Para saber compreender

Para se ter pensamentos coerentes
Não é preciso ser filósofo
Não é preciso que a mente crie mofo
Para que se tenha idéias brilhantes

Sem abrir a janela
Pode-se ver lá fora a vida
Pode-se – sim – compreende-la
E torna-la, para si, amada

Escutar sem ouvir
Eis aí uma grande virtude
Para que ouvir
Quando quem transmite é a quietude?

Chamar-se gente
Não é bastante para ser humano
Oh que grande engano
É chamar-se gente.

Não é preciso ser sol
Para assim brilhar
Não é preciso ser caracol
Para então rastejar


Crer que haja razão na esperança
É acreditar em algo que não se alcança
Só se vence com muita luta
E energia que não anda à solta

Não é necessário ser sábio
Para se saber procurar
Não é preciso ser gênio
Para se saber achar

Ser feliz
E não ser feliz
Dá no mesmo
É uma questão de esmo

Uma hora se é feliz por isso
Outra se é infeliz pelo mesmo isso
É tudo muito intuitivo
É tudo muito relativo

Ser pedra ou planta
É algo que não importa
Ser gente ou não
É algo muito vão

Não é preciso nascer imortal
Para algo se poder ser
No meio do mal

Importa somente vencer

HTSR/008016061981

Sentindo e Interpretando

ADOLESCÊNCIA


Ah... tudo é símbolo e analogia!...
O vento que sopra,
A noite que esfria...

Tudo é forma sem forma!
Quem forma e não forma
É o sentir do pensamento.

A música só é música
Para quem gosta de música,
Se não é simples ruído.

A escultura só é escultura
Para quem é escultor no sentir,
Se não é mera figura...

Aa, tudo é símbolo e analogia,
Que invoca um ar de magia
Naqueles que sabem interpretar!...

O que é a borboleta
Se não uma borboleta?
Às vezes pode ser mais que borboleta.

O que é o vento,
Se não um vento?
Às vezes pode ser mais que vento.


A analogia é tão salutar
Que não é para se pensar.
Cansa sentir quando se pensa.

Ah, tudo é símbolo e analogia!
Um trovão que ressoa...
Uma ave que voa...

É tudo uma questão de sentir,
Pois não se deve pensar.
Não se deve meditar.

É isto somente:
Cansa sentir quando se pensa,

Cansa pensar quando não se sente.

HTSR/007915061981

Rotina Científica

ADOLESCÊNCIA


Ave! Oh dia!...
Mais uma vez, frente a frente
Nos encontramos

Ave rotina!
Demos bom dia
Aos mesmos de sempre!

Bom dia cama!
Bom dia sapato!
Bom dia roupa!

Bom dia sol!
Bom dia céu!
Bom dia rua!

Enfadonho ciclo
Todas as madrugadas são madrugadas
Todas as auroras raiam no mesmo lugar

Bom dia gentes
Bom dia animais
Bom dia coisas

Tomaremos café
Depois iremos à faculdade
Depois voltaremos para casa

Ah... esta bolsa sempre cheia
Sempre tão pesadaSempre tão enorme

Aí vamos nós mais uma vez
Como outras, cheias de talvez
Imaginando coisas e desfazendo coisas

Bom dia escola
Bom dia Mestre
Bom dia colegas

Lá está o banco
Sempre frio, sempre duro
Sempre e sempre banco

Olá caneta
Olá caderno
Olá borracha

Tudo bem tesoura?
Tudo bem pinça?
Tudo bem agulha?

Como vai cadáver?
Vamos todos ao serviço
Mas um dia de retalhos.

Parece que ontem foi igual
Ah.... que sono!

Tchau pra todos!

HTSR/007815061981

terça-feira, 29 de setembro de 2009

?

ADOLESCÊNCIA

Gostaria que o florir do encontro casual
Que flui ao vento do acaso
Dos que haverão de ficar estranhos
Não tocasse sobre nós

Gostaria que os olhares descrentes
E os sorrisos doentes
Que enfeitam palavras de episódio
De momentos pontuais

Não em nós se intrometesse
Não em nossa semente
Que nem sequer inchou
Que nem sequer germinou

Gostaria que as vis interpretações
Cúmplice das idéias funestas
Que fazem baixas as intenções
Nunca aqui fizessem festa

Gostaria que não nos orientássemos
Por faróis distantes
Nem por estrelas sem lume
Ao acaso de um olhar perdido

Quanto ao andarilho de ti em mim
Gostaria de vê-lo não passante apenas
Mas sim um alguém analista
Num que de sedentarismo mediante


E que as metafísicas perdidas nos cantos dos poréns
E as filosofias solitárias de tanta trapeira de falhas
Habitassem para sempre no poço das desilusões
Lá se mantendo em tempo perdido...

Gostaria que fossemos incasuais na alma
Assim como na vida
Se é que não somos frutos de ilusões
Ou de sonhos bastardos

Não sejamos jamais fantasmas
Que erram sobre recordações
De pingos de momentos
Quer felizes ou não

A razão, essa nossa mãe distraída
Deve cuidar para que sombras
E que a luz fúnebre desconhecida
Habitem a obscuridade merecida

Que os entes do fluído abstrato
Não façam de nossa viagem
Um correr, sem fim
Um sem fim de correr

Que as intersecções dos vazios
E as uniões dos nadas
Não passem nunca sobre nós

Eis aí meu maior desejo

HTSR/007714061981

Sem Propósito

ADOLESCÊNCIA

Dia triste este
Em que meu coração
Mais triste do que o dia
Canta, não cantos,
Mas monossílabos de ais

Dia triste este
Em que meu coração
Mais triste do que o dia
Deixou-me em desencantos

E se foi sem menos e sem mais

Já se foi o dia
Já se foi meu coração
Num dia fora do tempo
Num tempo fora do dia...

E o amor que em mim ardia
Extinguiu-se em inanição

Meu amor nasceu fora do tempo
E morreu quando não devia

HTSR/007614061981

A Flôr

ADOLESCÊNCIA

Toda vez que venho a este jardim
Vejo-te, belo jasmim...
Mais do que bela flor
És o retrato do amor

Tu querida flor
Mais uma vez sorriste para mim
Que bom querida jasmim
Fonte do meu calor

Neste inconstante jardim
Gostava mais d’outra flor
Que não tu jasmim

Mas ela murchou, mudou de cor

Dizem que plantas sentem
Eu sinto também
Vai ver que a outra flor não sente
Ou então não me entende

Pois muito me feriu
Quando não mais riu pra mim
Ela simplesmente se esvaiu
Se foi, minha querida jasmim

Mas tu pareces viçosa
Que bom que sejas assim
Pois só não quero farsa

Minha querida jasmim...

HTSR/007531 de Maio de 1981

Lavagem

ADOLESCÊNCIA

Por fim em mim choveu
E na água dissolveu-se
Minhas ilusões insossas
E meus sonhos insípidos

Por fim em mim choveu
E meu cérebro limpou-se
Deixou de andar às tontas
Atrás de desejos enlouquecidos

Olha o sol!
Já não era sem tempo
Há muito que o espero
Há muito que o almejo


Ah! Meu querido sol
És tu agora o meu esto
Em muito te desejo
Pois só contigo vejo

Por fim após a chuva
Começou em mim brotar
Novas flores, novos pensamentos
Que bom! Parecem ser variados!

Ainda que eu não vá
Ser mero otimista e amar
Todo e qualquer encanto,

Serei mais desmargurado...

HTSR/007431051981

À Moça da Loja

ADOLESCÊNCIA

Moça meiga da loja
Cativa-me teu ser dançante...
Tua imagem sorridente
Em minha memória se aloja...

Moça da loja musical
És, também, tão musical
És leve, breve e suave
Como um canto de ave

Meiga moça musical
Tão simpática e aromal
Tens nos lábios sorrisos

E no ser a liberdade do acaso

Baila o trigo quando há vento
Bailam teus cabelos quando há brisa
Se aqui te canto
É porque és toda uma sutileza

Morena de olhos amantes
Tão vivos, tão brilhantes
Se te escrevo poesia

É porque me excitas a fantasia...

HTSR/007318051981

Sem Título

ADOLESCÊNCIA

Cá estou, mais uma vez,
A ouvir um tique-taque
De horrível sotaque
Dum relógio reles

Sonhando tolo, indolente
Com a infante verdade
Com a senil inverdade

E com a ventura inconstante

Ouvindo estes tique-taques
E imaginando tanta sutileza
Sinto-me como se fosse ter um ataque
E ser transformado em brasa.

Antes fosse assim
Talvez sendo mais diáfano
Viveria menos em engano

E não me veria tão perto do fim

HTSR/007218051981

À Jaqueline

ADOLESCÊNCIA

Minha querida amiga
Te escrevo poesia
Com grande alegria
Que por ti meu ser afaga

É meu reconhecimento
Ao sentimento
É minha homenagem
À não bobagem

Faz pouco que nos conhecemos
Mas juntos vamos crescendo
Juntos vamos evoluindo
Que bom que assim estejamos

Faço poesia por qualquer coisa
Que não seja mera coisa
E para mim tua amizade
Tem algo de verdade

Verdade que me apaga a tristeza
Da sombra da incerteza
Da dúvida enfatizada
Da descrença incontrolada

Em nossos momentos de conversa
Minha solidão então descansa
Deixando-me mais forte

E até mais contente

Tudo isso pode ser um nada
Mas na estrada da vida
Muita coisa é incompreendida
Muita coisa é esquecida

Tendo-se, porém um amigo
Nos sentimos mais algo
Nos sentimos menos nada
E até damos risada

Mas a amizade é tão efêmera
Tão fugidia
Que me lembra fantasia
Sim. Doce quimera

Mas eu não a quero assim
Quero-a bem real a mim
Assim é mais gostosa
Assim é mais valiosa

Por isso querida amiga
Te escrevo poesia
Sem mera utopia

Porque te quero sempre amiga

HTSR/007116051981

Sem Título

ADOLESCÊNCIA

Por trás de minha boca sorridente
Se esconde um coração que chora
Poderá lhes parecer agora
Brincadeira de romântico doente
Talvez o seja
Talvez não o seja
Mas o não duvidar

Já é um grande ajudar

HTSR/007016051981

Adeus ao Sentimento

ADOLESCÊNCIA

Estou triste de ser carinhoso
Estou cansado de ser sentimental
É tudo tão igual
Que sou tomado ao acaso

Quero perder meu sentimento
Não quero mais ser amoroso
Me é fonte de desgosto
Me deixando menos vigoroso

Tenho vergonha de mim
De ser tão tolo assim
Por tanto gostar
Por tanto amar


Tenho muitos remorsos
Por ter vivido
Por ter iludido
Foi tudo falso

Vivi em vão
Me iludi debalde
Só ouvi o som do não
Na busca da felicidade

Adeus amor
Adeus gostar
É muita dor

Vou me sepultar.

HTSR/006916051981

sábado, 19 de setembro de 2009

Saudando a Morte

ADOLECÊNCIA

Queria agora estar morto
E o espaço etéreo habitar
Queria solto ao vento
Livremente vagar

Como queria estar
Morto, bem morto
E feliz gozar
Da morte seus encantos

Quando eu novamente morrer,
Batam muitas latas!
Que bom vai ser!

Aproveitem bem a festa!

Minha morte será um dia de alegria
Estará encerrada a torpe alegoria
Chamem acrobatas com suas piruetas
Chamem palhaços com suas caretas

Soltem balões
E diversos foguetões!
Muita gente convidem
Riam, brinquem e cantem

Que saudades da morte
No dia que a encontrar
Quero festa de alegrar

Pois me foi um dia de sorte.

HTSR/006816051981

Sonhando-me em Planta

ADOLESCÊNCIA

Queria ser planta
Sim verde planta
Que não fala, não ouve
E também não vê

Mas sensitiva ela é
Assim como meu ser o é
Mas meu ser fala e ouve
E também vê


Por isso sou tão triste
Por ser inteligente
Quisera ser planta

Somente verde planta

HTSR/006711051981

Poeminha

ADOLESCÊNCIA


Pensei em ti esta noite
Mas não passou de sonho
Nele fé não ponho
Seria grande tolice

O que foi o sonho?
Não posso contar
Deixa de ser sonho

O bom é imaginar

Queria ser mágico
Seria fantástico
Transformaria sonhos em verdade
Fantasias em realidade

Mas não sou mágico
E por tão pouco
Imateriais ficam os sonhos

Continuando a serem sonhos

HTSR/006611051981

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Fracionado

ADOLESCÊNCIA


Sou parte de minha alma
De minha alma errante
De minha alma inconstante
Ora agitada, ora em calma

Longe de mim existo
Existo, mas não sou visto
E de lá vejo a mim
E acompanho a mim


Sou parte de minha alma
De minha anfíbia alma
Vivo um pouco na verdade
Outro pouco na inverdade

Já houve um tempo que eu era um só
Mas quanto mais vou ficando só
Vou compassadamente morrendo

E devagar me dividindo

HTSR/006511051981

Fulano

ADOLESCÊNCIA


Eu me chamo fulano
Sim: Fulano
É este meu nome

Sou o Fulano
Que nasceu de ninguém
Que não tem ninguém

Sim, eu sou o Fulano
Vítima de um engano
Vítima de um acaso

Sim, sou fulano
Fulano eu hei de ser
Fulano eu hei de morrer

Ninguém quis saber de mim
Porque não estou em mim
Vivo como um ninguém

Sou fulano
Mero Fulano
Fulano eu hei de morrer


HTSR/006411051981

Então era tudo falso

ADOLESCÊNCIA

Aqui existe falsidade
Sim... muita falsidade
Como isto me entristece
Como isto me enfraquece

Por que, entre tantos “mundos”,
Ela escolheu logo este?
Este pequeno mundo
Para espalhar sua peste?

Logo o meu mundo
Meu triste mundinho
Onde pus tanto sonho
Onde ainda vinha sonhando

Quanto me foi de amor
Quanto me foi de calor
Quanto me foi de vida
Só de vida mentida

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não!
Eu só transmito
O que me sente o coração.

Aqui é tudo tão falso
Que pensam que também sou falso
Assim fosse meu pensamento
Assim fosse meu tormento

E eu que pensei ter encontrado alegria
Vi que é uma alegoria
Que em uma dor imensa
Só quer dizer farsa

Vazio encanto ébrio de si
Só de segui-lo me perdi
Por que o desejei?
Quanto me iludi!

Tudo que sonhei é um enigma
Que se esconde não sei onde
E a minha alma já cansei
De procurar debalde

O que me dói tanto
Não é o que há no coração
Mas sim o desencanto
Dessas coisas que nunca existirão

São formas sem forma
Que passam depressa
Sem que conhecer as possa
Ou as sonhar a alma

Porque é tudo tão falso
No que há e no que penso?
É tudo um indesejo
No mundo que vejo

Contemplo o que não vejo
Num tarde quase escuro
E quanto ao meu desejo
Ficou além de um muro

O amor me foi começado
Num ideal que não acabou
Mas que já se enfadou
Por ser tão enganado

Sonhei que fui feliz
Veja o mal que fiz
Me enganei tanto
Que estou ficando morto

Como um réquiem de saudade
Estou compondo esta poesia
Na dor que minh’alma esvazia
Rindo triste da verdade

Antes fosse tudo inverdade
Não perceberia a falsidade
Não sonharia tanto
Não almejaria tanto

Quando se pensa ser amado
Na verdade nem se é gostado
É-se um mero esquecido
Um pobre desprezado

Oh triste verdade
Triste verdade
É tudo tão falso
Tudo tão falso

Por que fui descobrir isso agora?
Pobre de minha vidinha
Pobre coitadinha
Tão boba, tão sonhadora

Tenho tanto sentimento
Que me perco em pensamento
Imaginando a falsidade
Ser uma tímida verdade

Se fosse outro, seria outro
Se em mim houvesse certeza
Não seria fluído neutro
Teria decerto mais firmeza

Mas já me ronda a incerteza
Dum mar de dúvidas e poréns
Me falta a clareza
Que de ao meu sofrer amén

Então me iniciaria na luz
Ainda que em dia tristonho
Porque o limiar é medonho
E todo o passo é uma cruz

Mas tudo isso é ufanismo
Minha crença é infantil
Mas o mundo é mesmo vil
Um poço de demagogismo

A minha vida sentou-se
E não há quem a levante
Ela já está doente
Minha vida fartou-se

Fartou-se do que é falso
Da almejar o que não posso
Torpe mundo de cinismo
Fez de minha vida um cataclismo

Só agora descobri
O que realmente me rodeia
E de vergonha me cobri
De ver onde meu ser devaneia

Entre o que vivo e a vida
De minha atual estada
Prefiro aquela descida
Que me leva ao nada

Qualquer coisa me valerá
Melhor que a vida que tenho
Esta vida de estranho
Que só me dilacera

Tivesse eu conseguido
Nunca saber de mim
Ter-me-ia esquecido
De ser real assim

HTSR/006310051981

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Fim de Dia

ADOLESCÊNCIA

Começa-se ir o dia
A noite vem chegando
E vem chegando
E vai-se indo mais um dia

O céu azul começa
Adquirir a negrura
Da sua noite escura
Onde toda clareza cessa

E a triste vermelhidão
De um céu azul-cinzento
Vai-se perdendo na escuridão
De um céu cada vez mais preto

Trocaram de lugar
Sem qualquer intento
Um frio sem vento
Uma brisa sem mar


E como que doente
Emerge vagamente
No fim do céu
Uma lua que amarelou

As estrelas, tão longe,
Nem sequer nos iluminam
Ficam lá: tão longe
Apenas brilhando em vão

O céu de luto
Tão preto em seu véu
Me parece mais preto
Preto como o breu

Vai-se mais um dia
Com a escuridão sua graça esvazia
E o ar na noite vazia

Dorme esperando o novo dia

HTSR/006208051981

Em Memória de Bach

ADOLESCÊNCIA

Ouço a Tocata e Fuga em Ré Menor
Que coisa linda! Que obra de esplendor!
São profundos os seus motivos,
São tão doces tão altivos!...

Os acordes difundem-se pelo ar
E o órgão parece-me transportar
À mil setecentos e vinte e sete
Época da verdadeira arte

Imagino-me em Leipzig, todo importante
Não existe coisa mais imponente
Viver o Barroco de Bach
E seus belos sons escutar


Tocata: um trecho de bravura
Em Bach prima por independência
Como dignifica minha paciência
E deixa minh’alma mais pura

A fuga com seu maravilhoso sujeito
E seu belo contra-sujeito
Toda escrita em Dórico
É algo magnífico

E eu escutando Bach
Fico a me deslumbrar
Com seu som to pleno

Com seu toque sobre-humano

HTSR/006108051981

Além do Tédio

ADOLESCÊNCIA

Rasteja mole por campos ermos
Meu pensamento insossegado
Rasteja mole por campos ermos
Por estar assim tão cansado

De mim fugiu meu pensamento
Sozinho ele deixou a mim
Vai ver que eu lhe era um tormento
Por isso ele deixou de mim


Escrevendo só por inércia
Mexo a mão indolente
Fazendo no papel carícia

Sem saber do meu pensar
E sem querer saber

Por que não sei pensar

HTSR/006006051981

Esperando Alguém

ADOLESCÊNCIA

Meu coração nutre uma idéia triste
A idéia de que nunca vou ter alguém
Por que viver sem ninguém?
Que triste sorte!

E essa idéia, como que um sabre,
Reduz minha’alma a um casebre.
Triste, triste idéia
Por que por mim vagueia?

E os dias vão passando
E a idéia vai crescendo
E meu coração vai ficando descrente
E eu vou ficando mais triste


Que essência amargural
Essa de não ter ninguém!
Como tal
Também me sinto ninguém!

Não durmo, nem espero dormir
Porque não consigo dormir
Oro e digo amén

Esperando por alguém...

HTSR/005902051981

O Poção

ADOLESCÊNCIA

Hoje fiz um passeio mui lindo
E sonhei com sonhos mui lindos
Fiquei romântico outra vez
E esqueci-me do meu talvez...

Comecei numa estradinha de barro
Onde passa muito pouco carro
Dei uma de caminhante
E fui a pé bem contente

Vi flores vermelhas, azuis e rosas
E borboletas de coloridas asas
Ouvi cigarras cantantes
E vi libélulas dançantes

Vi árvores copadas
E palmeiras bem altas
Ouvi a música aguada

Que o riacho libera

Então, como o vento da floresta
Minha emoção não teve fim
E, assim, todo em festa
Sorri de novo para mim

Toda árvore era um movimento
Toda flor era uma alegria
Meditei sem ter pensamento
E criei mil fantasias

Como que imitando um Beethoven
Ou um Mozart
Ou, ainda, um Chopin
Tentei cantar toda essa arte.

Nestes singelos versos
Coisa de romântico indolente
Que escreve versos e versos

Sem saber o que tem em mente

HTSR/005802051981

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Eu?

ADOLESCÊNCIA

Quem sou eu?
Será que eu sou eu mesmo?
Ou, simplesmente, me imagino eu
Assim, sem nenhum esmo?

Será Que minha alma se lembra de mim?
Ou do que fui de mim?
Ressuscita-te memória!
Conta-me minha história!

Quando penso em mim
Sinto-me como num mar de lembranças fluídas
Ou num lago de bobas nostalgias
Ou, ainda ,no Oriente entre trapos de cetim

Serei eu alegre ou triste?
Gostaria de melhor saber
Para melhor me pertencer
E descobrir o que no coração existe

O que será a tristeza?
Existe nela clareza?
O que será a alegria?
Será ela só fantasia?

Gostaria realmente de saber
Porque não sei o que fazer
Quando sou o bobo triste
Ou o alegre demente

Vezes me vejo tão atento
E noutras tão disperso
Que em cada pensamento
Me torno mais diverso

Acho que minha alma
Condiz com o que não existiu
É algo que nem se doma
Uma coisinha que sumiu

Serei eu alegre ou triste?
Não vejo razão de na tristeza me esconder
Ou de na alegria me perder...

É tudo um grande embuste

Vai ver que sou alegoria
Me rio com a tristeza
E choro com a alegria
Que interessante estranheza

Se vivo é porque me perdi
Se amo é porque não amei
Serei mesmo complicado
Ou somente iludido?

Às vezes tenho saudades de mim
De quando não era assim
Mesmo sem saber de mim
Ou se já tive começo ou fim

Talvez esteja iniciando
Ou, ainda, me findando
Não sei bem ao certo...
Nem posso saber tanto...

Triste momento que um olhar
Sorriu incerto para mim
Deu em minha alma lugar
À um Ser inconstante assim...

Já fui adulto na infância
E criança na adolescência
Agora, adulto não sou nada...
Talvez, uma obra inacabada...

Cansa pensar demais
Pensar nunca tem bom fim
Em não saber de mim
Não me sinto de menos nem demais

Afinal, alegre ou triste?
Em verdade não sei
Sou qualquer coisa que existe
Algo como que “agnus Dei”

E por que não?
Num momento de então
Sou ente que Deus fadou

E que, decerto, aqui pousou...

HTSR/005730041981

Minha Alegria

ADOLESCÊNCIA

Um dia andei contigo
Entre ramos de trigo
Como que prenunciando prosperidade
Como que prenunciando juventude

Sim, contigo andei
E contigo amei
Sorridentes e tal
Num passeio ideal

As melhores paisagens contigo eu vi
E os melhores momentos contigo vivi
Sonhei que era teu
E não me senti mais Prometeu

Numa volúpia de ouro
Atiramo-nos um no outro
Esquecendo-nos da dor
Nos fundindo no amor


E tu, como que borboleta
E eu como que bêbado
Fui sonhando
E tu fazendo festa

Virei poeta
Virei artista
Sonhei com a felicidade
Esqueci-me da fatalidade

Senti-me como flor
E zombei até da dor
Fiz para minha vida
Uma canção querida

Mas um dia foste embora
Senti-me de novo no agora
E as coisas belas de outrora

Passaram que nem hora

HTSR/005611041981

Bem ou Mal

ADOLESCÊNCIA

Esse dom que me inunda
Em meu eu demente
É como um culto doente
Só de vazios e nadas

Que em minh’alma coexiste
E que consiste o meu Ser
Acompanhando-me em vácuos e diafanidades
Na minha pouca idade


Não sei porque em mim existe o bem
Esse bem que é mau e me faz sofrer também...
Mas já que vivo de ilusões promissoras
Talvez me anestesie outras tantas bobeiras

Amo, entanto, esse mal de que sofro
Não sei porque, mas amo e sofro
Talvez de tanto amar e sofrer

Morra de pesar e prazer

HTSR/005504041981

Moda de Amor

ADOLESCÊNCIA

Buscar, querer, amar... tudo isso diz
Perder, chorar, sofrer, vez após vez
Não há para tais intentos um talvez
Só há um constante ser infeliz

Às vezes penso se ainda amo
Ou se apenas me domo
Transformando-me em algo amoroso

Assim como um bobo sedoso

Blá, blá, blá
Blá, blá, blá
Aí está o canto do amor
Já sei até de cor

Falar de amor já foi moda
Não existe mais amor para se cantar
Pensar em amor é se enganar

Pois agora ele é conto de fada

HTSR/005421031981

Lira dos 19 anos

ADOLESCÊNCIA

Dezenove anos no rosto insone e gasto
Que ainda sorri primaveril em meio
A dor onde um saudoso sonho casto
Talvez me inflame e purifique o seio

Veio-me a adolescência e o amor me veio
Amei! Fui infeliz e agora pasto
A dor e a tristeza num campo cheio

Vendendo o espírito flácido e nefasto

E a angústia como que de açoite
Ou a doença que me dilacera
Me alugou e feriu na última noite

Vi ilusões... juras de amor
Senti-me morrendo num hospital

Sonhando amor num lamaçal

HTSR/005320031981

Como Bolas de Sabão

ADOLESCÊNCIA

Como bolas de sabão
Vejo o tempo passar
E a vida escoar

Como bolas de sabão
Leves e frágeis
Tenho os desejos em minha mão

Como bolas de sabão
Vão para o alto

As esperanças de então

E lá, bem no alto
Se desfazem num só ato
Em flóculos de espuma

Na água ensaboada ponho um tubo
E sopro novas bolas de sabão

Sonhando novamente em vão

HTSR/005220031981

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Retrospecto do Nada

ADOLESCÊNCIA

Por que em mim é tarde
Por que, afinal, me sinto perdido?
Assim vazio e cansado?

Por que em mim a febre arde
A febre das saudades imprevistas?
A febre dos tolos suicidas?

Sinto-me na hora parada
Na hora estagnada
Na hora do nada!

No espaço lúgubre
Como ponta de sabre
Sinto o vazio do tempo

Por que a emoção indefinida
Me corrói a vida
Minha vida enfadada?

Por que canto a amargura
Estou acostumado à desventura
Foi sempre assim

E eu, bastardo do sentimento
Perdido na areia da praia
Ainda sonho com fantasia

Onde estou o som marulhoso
Me faz melindroso

Afogando-me em desejos

Mas de que me valem
Não passam de sonhos
E sempre tacanhos

Meus olhos perdidos
Contemplam o céu de cor cinza
Do horizonte infindo

Com suas nuvens azuladas
Com seu ar esfumaçado
Pesado e entristecido

E me sinto mais no nada
Na hora insalubre
Na hora parada

Em mim já é tarde
Muito, muito tarde
Um tarde infinito

De momentos apagados
De esperanças mortas
De séculos inteiros

Minh’alma então cansada
Pelo mar vagueia
Sem noção e sem idéia

Buscando barcos perdidos
De velas rasgadas

Para sempre esquecidas

HTSR/005120031981

À Flautista

ADOLESCÊNCIA

Poucas vezes te vi tocar
Mas teu tocar é um inflamar
De cores cintilantes
De motivos verdejantes

Riquezas que despertam inveja!
Ainda que não se veja
Prata ou ouro de esplendor,
Mas sim sons de amor...

Minha poesia ingênua
É de simplicidade nua
Comparada a teus trinados
Não passa de leve folguedo

Quando, suave tocas
Tuas mínimas e colcheias
Tudo se reduz a essências
Como num sonho de fadas

Teu espírito habita a imensidade
Uma ânsia sutil de liberdade
Agita as formas fugitivas
De tua criação festiva


Só te conheço em parte
Se te escrevo poesia
É porque teu ser dançante
Transporta-me à alegria

Numa graciosa melodia
Toda a tua alma se esconde
Reminiscências do aonde
Inspiram-me a nostalgia

Quisera poder musicá-la
O alegro, o adágio, o andante...
Nela seriam brilhantes
Em tons de sol, mi, lá..

E este quê de poema
Com arpejos e comas
Tornar-se-ia digno de Mozart

Símbolo de verdadeira arte.

HTSR/005028021981

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Soneto do Reencontro

ADOLESCÊNCIA

Vida pacata é esta
A vida em meu quarto.
Horas sozinho reparto
Com a paz discreta.

Dia leve, de beleza dourada...
Neste dia airoso
A tarde cheira a um licor precioso
Parece uma taça entornada...

Nuvens esparsas e alvadias,
Assim tão deslizantes
Pelos céus errantes,
Parecem silhuetas fugidias...

Ouvindo valsas e sinfonias
Brinco de ser poeta,
Deixando que sonhos em festa
Me levem ao país fantasia!

Mas do enlevo desses dias
Já começo a me enjoar!
E um novo quê vem despertar
Em meus esboços de poesia.

Um quêzinho ainda dormente,
De uma coisa semente,
Que vai inchandoE vai crescendo...


Sem que possa exprimir
Um estranho modo de sentir,
Escrevo rimas avessas
Ao som de músicas dispersas.

E a lembrança de uma figura
Que de tão terna me encantara,
Está agora ausente.
E de mim distante...

Mas doce e feminina,
Afaga uma saudade menina
Que em meu ser desponta,
Ainda que discreta.

Alegre e carinhosa...
Assim te guardo, assim te lembro,
Misto de rosa e andorinha
Dos meses brandos de setembro!...

Estes dias de janeiro
Como demoram a passar.
Isso me faz pensar:
Será igual em fevereiro!

Que março chegue sem demora!
Cada segundo é como hora.
Desejo logo rever-te
Minha querida Elizabeth.


HTSR/004901011981

Novo Ano

ADOLESCÊNCIA

Inicia um novo ano
Com ele esperanças e enganos
Rios que se perdem em florestas
Sonhos de mancebos e poetas

Sim... Novo ano!
E no pano de fundo
Ano a ano
É ele mudado

São feitos planos de instante
Pouco além da vida indolente
Algo como que presunção
Refletindo sensação

Nas nuvens cor de cinza do horizonte
Mergulham os menos contentes
No azul das ondas e na terra quente
Deleitam-se os mais contentes


E assim inicia-se o novo ano
Ora com rimas
Ora sem rimas
Ora humilde ora ufano

E ufanos vamos sonhando
Perdendo-nos na intranqüilidade
Almejando a felicidade
Como bobos encantados

Mas a vida é assim mesmo
Desprovida de esmo
Antes ser um sonhador

Do que um amante da dor

HTSR/004824121980

Uma Poesia Realista do Natal

ADOLESCÊNCIA

Aproxima-se o Natal
E nos dias que o qntecedem
Será tudo tão igual
A anos atrás, idem.

Propagandas de anjos loiros
Como se o mundo inteiro fosse loiro
Motivos coloridos de brancura
Como se pureza fosse sinônimo de alvura

Cultura de sonhos fugidios
Alegrias de sentidos dúbios
Num tudo tão igual
Num tudo sem Natal

Burocratas emprestam-se de sorrisos
Nos chovem tempestades de avisos
Compre aqui, ali, acolá.
Hoje, agora, já

O que era difícil ficou fácil
O que era fácil ficou difícil
E o abuso desmedidoVira obra de encanto


Publicidade de alegria bastarda
Riem todos de bobeira dada
Autômatos indo as lojas
E de lá voltando em farpas

Milagrosos carrosséis
Enfeitinhos de papéis
Em feira de fantasia
Tornam doce a barbaria

Religiosos bem falantes
Com formalidade enojante
Cumprem rituais que convém
Para levar a demagogia além

São todos tão iguais
São todos tão banais
O que é para o ano inteiro
Fazem agora rasteiro

Natal! Manchete de sensação!
Transmitida a todo o mundo
Famoso dia de fundo

Que acende uma revolução

HTSR/004714121980

domingo, 30 de agosto de 2009

O Maestro

ADOLESCÊNCIA

O espetáculo vai começar
O público respira em suspense
Há um clima de espera no ar
Há em que nada se pense

Num ambiente de veneração
Não há quem esboce ação
É tudo uma curiosa espera
No silêncio que impera

Hora indecisa de noção indefinida
A orquestra inteira preparada
Espera-se a hora momento
E ele está atento

As paredes parecem suar
Música corre em veias
O público já anseia
O primeiro som que vai toar

Uma mão se ergue lentamente
Checagem do corpo e mente
Num quê de demora
Chega o momento do agora

A batuta move-se no ar
Sobressalto de olhares
Afrouxamento de lugares
As notas irão soar


Um, dois, três! E inicia
Como catedral que se ilumina
Como sonho que voou
A música soou

Profunda e plena
Grave e serena
Tudo se reduziu à essência
E todos viraram poesia

Há uma explosão de cores e sons
Dezenas de bemóis e sustenidos tons
Que numa toada ardente
Conquistam a toda gente

Dele o olhar austero, vigilante
E ao mesmo tempo conquistante
Transmitindo vida e vibrações
Doma o descontrole das emoções

O final glorioso
Arranca aplausos e aplausos
Festividade antes merecida
E não apenas almejada

A vitória é completa
A batuta se aquieta
É ele o grande herói

Contendo a emoção que lhe dói

HTSR/004629111980

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vivendo Música

ADOLESCÊNCIA

Bailam no ar notinhas coloridas
Alegres, fugazes, saltitantes
Com sua festividade florida
Trapezeiam nos móveis e estantes

Ah, ah! Notinhas brincalhonas
Massageiam meus ouvidos
Assim soltas que nem penas
Fazem o seu som querido

De onde vêm essas notinhas
Assim tão leves, tão soltinhas?
Sinto-me como se fosse música
Meu ser todo “musiqueia” em mímica

Parece até que estou me decompondo
Em milhares de notas musicadas
E dezenas de melodias compondo
Em formas embaladas

Não consigo tocar as notinhas
São todas fugidias
Notinha eu queria ser

E atrás delas correr

HTSR/004528101980

Insensibilidade

ADOLESCÊNCIA

"Não espanta que eu fale em meu próprio sentido e que aqueles que agradam a si mesmos estejam na ilusão de serem dignos de louvor: assim, a mais bela criatura que existe é: para o cão, o cão; para o boi, o boi; para o asno, o asno e, para o porco o porco."
Epicarmo


Que os mais belos dons tenham
O menor número de admiradores
Só assim alcançarão
Seus devidos valores

Se a maior parte do mundo
Tem em conta o que não presta
A ele faço-me surdo
À mim também não presta

Conferindo glória ao mundo
Deprecio a mim mesmo
Não faço assim a esmo
Tal loucura, tal absurdo

Não é espanto de mim próprio
Falar, quando todo néscio
Encontra-se na ilusão da dor

Julgando-se digno de louvor

Quão poucos dias temos
Nesta existência
Sutil e fria
Que tanto almejamos

Vale a pena passá-la
Diante de patifes
Rastejando como vermes
Ou ao máximo gozá-la?

Um discurso brejeiro
Dorme nos ouvidos do tolo
Dele me esgueiro
Não quero vê-lo

Nada posso fazer
Está tudo visível
É simplesmente incrível

O não querer

HTSR/004430101980

Florianópolis

ADOLESCÊNCIA

Nobre ponte citadina
De tão tranquila capital
Da manhã de neblina
Nasce a tarde sem igual

A baía em sua concavidade majestosa
Embeleza ainda mais a ilha bondosa
Com seu litoral enorme
Que alegra e inspira-me

As elevadas torres da ponte
Entre tantas outras a faz singular
Pois em nenhum lugar
Há coisa de tal porte

Nobre ponte citadina
De minha cidade adorada
Terra de natureza amada

Fazes minh’alma ufana

Um cheiro de maresia
Vem me refrescar
Como que melodia
Vinda das ondas do mar

Deste mar celeste
Que num azul enorme
A imensidão do céu retrata-me
Com beleza imponente

Baía exuberante, encantada
Seduzente no Abril
Vestida de cristal e anil
Vales a pena ser cantada

Florianópolis de incomparável crepúsculo
E inegualável aurora
Com alegria até pulo

De estar aqui agora

HTSR/004325101980

O Flautista

ADOLESCÊNCIA

O quarto é simples e pequeno
De tijolos rústicos é feita
A singela parede
Sem bugigangas ou enfeites

Na tosca mesa
Num canto do quarto escuro
Repousa entre partituras
A já velha flauta

A janela estreita
Mal permite que a tênue luz
Tão fraca ilumine
O pouco que há para se iluminar

Na cadeira balouçante
O tocador se fixa nos papéis
Procurando o que não se sabe
Nas pautas já quase desfeitas

Escrevendo e refazendo coisas
Esquecido do tempo
Que já lhe esqueceu
Vive um mundo de notas e compassos

Ah! Quantas vezes pensando nela
Por horas mortas postou-se assim
Insone e triste à mesa

Tardas vigílias passando em vão

Seu espírito habita a imensidade
Uma ânsia cruel de liberdade
Agita e abala as formas fugitivas
De sua singular criação

Em suas mínimas e colcheias
Escoa-se a vida humanamente
É um suscitar de côres endoidecidas
De ser tão só talvez

Quando a música soou
Profunda e plena
Por entre as paredes
Tudo se reduziu à essência

Numa incerta melodia
Toda a sua alma se esconde
Reminiscências do aonde
Pertubam-lhe a nostalgia

Numa ânsia de ter alguma coisa
Divaga por si mesmo a procurar
Tocando em vão sem nada achar

Nada tendo, mas decidido a criar

HTSR/00422101980

Ambigüidade

ADOLESCÊNCIA

O substantivo do meu ser é abstrato
O artigo de minh’alma indefinido
Meu ser é dependente
Ao tempo que é independente

O nome próprio de minha essência
É ser essência apenas
O que a mim é tão comum
Tão impróprio como eu mesmo

Penetro em mim
Minha existência sou eu
E eu sou a existência
Sendo penetrada por mim

De que me vale a nova idéia?
Tal como sou
Neste presente exíguo
Em que só não vejo a mim?

De concreto existe apenas
Meu escrever nesta cultura rala
Em que fui inserido

E em que vegeto

A inconsistência de mim próprio
Me transpõe os poros
Me eleva e sacode
Ma vacila e faz cair

Aonde irei neste sem fim perdido
Neste mar ôco de certezas mortas
Fingidas, afinal, todas as verdades
Que julguei haver construído

Na floresta dos sonhos, dia a dia
Se interna minha razão impensada
Nas regiões do vago esquecimento
Me conduz passo a passo a fantasia

Sou inferior ao que já fui
Sou insignificante ao que seria
Já não me valem incompletas conclusões
Que a si se bastam sem bastar a mim

Incerteza dum mistério
De dúvidas cismadas
É meu ser dentro de mim

Títere do que não sou

HTSR/004120101980

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Idiotice

ADOLESCÊNCIA
A idiotice que me cerca
Me sufoca e me cega
E minha alma sofrega
Daqui não sai nem fica

Se desmorono o meu presente
Meu futuro já é poeira
Meu passado não existe
É tudo tão asneira

A existência mentirosa
À mim se mostrou airosa
A vida e a felicidade há muito passaram
E espelhos vagos as refletiram

Na côr do mundo mundo degradante
Não vi que sou doente
Na idiotice que me rodeia
E tanto me odeia

Toda a ternura que eu poderia ter vivido
Toda a grandeza que eu poderia ter sentido
Nunca achei
No muito que busquei

Como me enterneço de mim
Até choro por mim
Na vida não vi beleza
Nem luz, nem clareza

Os parvos me fizeram sombra
E eu cá fiquei de sobra
Sem tocar, nem sentir
Sem ver, nem ouvir

Em tudo houve um começo que errou
Asa que se prendeu e não voou
Porque estúpidos não compreendem
Não vêem, nem querem

Num ímpeto difuso de encanto
Tudo encetei e nada possui
Hoje de mim só resta o desencanto
Das coisas que sonhei mas não vivi

A obsessão débil de um sorriso
Levou-me à dor do acaso
Transportou-me os olhares de quebranto
Pasmo a sonhos de fausto

A idiotice que me abraça
Cobriu-me de farsa
Já não vivo para sentir
Existo por existir


HTSR/004013101980

Agonia do Amor

ADOLESCÊNCIA

Quando penso nela
Tão viva e tão bela
Fico cheio de calor
Excitando meu coração de amor

Fico tão agoniado
Ando de lado a lado
Desejos penetram minh’alma
E embora se vai a calma

Meu ser alado
Perde-se em poemas
Rosas, azulados
E de todas as formas

Meu coração que palpita
Contrai-se e suplica
Quer sair da alma insatisfeita
Que o prende e sufoca

Não consigo conter-me... choro
Ejaculando amor por poros
Foi só mais uma vez

Entre outras tantas, talvez...

HTSR/003912101980

Sonhar

ADOLESCÊNCIA

A vida para mim é melhor
Sem ser vivida
Deve ser sonhada
Nunca com temor

Não tenho alegria no viver
Mas tenho no sonhar
É ele meu poder
A ele eu vou louvar

Mistério de uma certeza
Que nunca há de se fixar
É o meu sonhar
Minha única riqueza

É no sonhar
Que vejo quem sou
E para onde vou
Sem que me possa enganar


HTSR/003811101980

Amigos

ADOLESCÊNCIA

Amigo? O que é isso?
Ter um amigo?
Como falar disso
Se nem sei o que é amigo?

Inimigos? Sei que os tenho,
Mas... e amigos, terei?
Com eles nem sonho
Nunca os possuirei

Amizade é tão efêmera e fugidia
Que me lembra patologia
Facilmente nos infectamos
E dificilmente saramos

A minha volta todos possuem
Um afeto, um sorriso ou um abraço
Só para mim as vontades se diluem

E não possuo mesmo quando alcanço

Não me lamento
Antes, talvez, até regozige
Se não me iludo hoje
Amanhã não me enganarei tanto

Se muitos sofrem por ela
A mim é indiferente
Como que barco a vela
Ao sabor do vento forte

Amigos? Para os ter
Forçoso me era antes, usufruir
Aquele que eu estimasse sem ter
E lograsse nunca possuir

Só de pensar em buscar
Já me canso e entristeço
Para que os alcançar

Inexistindo o apreço?

HTSR/003711101980

Porque te Escrevo

ADOLESCÊNCIA

Se te escrevo tanto
É porque ainda te tenho apreço
Nada ganho e nada alcanço
Mas exercito o pensamento

O escrever é como o cantar
Quanto mais se canta
Melhor fica o entoar
Exercitando-se a garganta

Escrevendo eleveo o meu pensar
Ainda que não percebas
E cxonsideres minhas linhas bobas
Tão pouco quanto meu falar

Sou o pálido poeta das flores
Que canta a beleza das dores
Fazendo-me de idiota
À quem pouco importa

Como que jogando folhas ao vento
Sei que as letras do meu encanto
São lidas como que pelo rio
Disso me divirto e até sorrio

Ainda que desfolhasse a matéria impura
Ela não ficaria mais pura
Pois já o é em matéria

E assim para sempre ficaria

Foi por ti, num sonho de ventura
Que a flor da alegria consumi
E com ela me sumi
Numa imagem de candura

A tise ergueram meus tristes versos
Reflexos sem calor de um sol intenso
Sonhei tanto de amor
Que não vi na vida o louvor

Cantando rios e flores
Envolvo-me em meus amores
Vejo que não sou insensível
Mas não vejo meu amor invisível

Se eu o pudesse ver
Não amaria a atraente borboleta
Tão imatura em seu ser
E diria a tudo um basta

Quizera dessa colorida comédia
Tirar linhas de proveito
Mas dia a dia
Me vai acabando o intento

Se te escrevo tanto
É porque não sei o que canto
Vou escrevendo e cantando

Enquanto estou amando

HTSR/003611101980

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Escrevendo em Vão

ADOLESCÊNCIA

"Das glücklichste Wort es wird verhöhnt,
Wenn der Hörer ein Schiefohr ist."

Goethe


Minha poesia ingênua
É leve, ondulante e fina
De simplicidade nua
Misto de garça e de menina

Escrevo versos
Tão bobos e tão falsos
Às vezes assim como eu
Por vagarem ao léu

Palavras d’um improviso
Riscos d’um braço indeciso
Atrás do que seduz
Sem guia e sem luz

Gotas de modernismo…
Às vezes de romantismo…
São como um nada
Despertando risada

A vida é assim mesmo
Desprovida de êsmo
Cheia de esperanças
Completadas por farsas

Displicente, trêmula e leve
Descrente minha mão escreve
Coisas que passam

E nem tocam

Invade-me a tristeza indefinida
De coisas quase esquecidas
E no coração sombrio
Sobra-me só o vazio

Assim, escrevo sem amor
E sem filosofias
Meras poesias
Sem vontade e sem ardor

Então, sem manhãs
Falo de coisas vãs
Às vezes em solfejo
Às vezes em arrojo

Fria no meu escrever
Uma lágrima desce
Do meu querer
Que já desaparece

Num mar de não coisas
Cantadas em poesias
De sílabas pendentes

Que se apagam lentamente

HTSR/003509101980

Medievista

ADOLESCÊNCIA

Transportando-me ao medieval
Vejo que não sou tão banal
Pois sinto no medieval
Tudo como tal

Sonhando em deleite
Imagino castelos de enfeite
Enormes pontes elevadiças
Nobres altivos em caça

Há em tudo mais vida
Coisa que aqui nem é tida
Há vontade de perfeição

Com mais força e ação

O que há de mais no mediévico?
Nele existe mais encanto
Medieval é este mundo
Moderno triste e mudo

Nessa época esquecida
Até o amor era diferente
Resultante de uma alma embebida
De grande calor ardente

Habito numa terra distante
Longe daqui e de todos
Longe deste mundo inerte

Cheio de dor e enfado

HTSR/003401101980

Augusto

ADOLESCÊNCIA

Ao amigo Augusto
Que muito tenho tido
Uma mensagem rasa
E sem profundidades

Em busca do êxito
Aos poucos o vamos conseguindo
Fazendo nossa vida rosa
Isenta de superfluosidades

Embora implacável nos persiga
O cruel amargor
Para nós, já é ele um vencido
Que cedo ou tarde cairá

O amor que teu ser afaga
Será um dia triunfador
E livre do enfado

A vitória cantará

HTSR/003301101980

Antes a Natureza

ADOLESCÊNCIA

Não sei o que é a Natureza
Mas, canto-a
Vejo sua beleza
E adoro-a

Se digo que as flores sorriem
É porque sorriem
Se digo que os rios cantam
É porque cantam

Para que mais?
À mim é assim
Só para mim
E nada mais

Não porque julgue haver cantos
Em flores ou rios
E alegrias e sorrisos
Nos mesmos e outros

Mas é porque assim
Torno mais falso a mim
Como é tudo que existe
E até que não existe

É tudo tão falso
Tudo tão metafísico
Que nada alcanço
E cá eu fico

Fico só em mim
Sem crer nem pensar
Sem também esperar
Como que vindo do fim

Há metafísica no nada
Lances do fundo da alma
Só e em calma
Fico sem sonho ou fada

Que grande besteira
Meu cérebro até se empoeira
De ficar tão vazio
E pensar sem alívio

O não pensar
É bem pior que o pensar
As idéias se confundem e se embaralham
Não sei de onde vêm e para onde vão

O bom mesmo é cantar
E até inventar
Criar novas vidas
Sem deusas ou fadas


Por isso canto a Natureza
Vejo nela clareza
Com ela vivo e sonho
E nela fé eu ponho

Constituição íntima das coisas
Sentido íntimo do universo
Mais alguma dessas
E não temos mais universo

Do não pensar o mui pensar
É seu polo inverso
Não há nele vida ou verso
Só há dor e cansar

O mistério das coisas?
Sei lá o que é mistério!
Vejo razão nas coisas
O rsto é com o que cemitério

Para ver razão nas coisas
Apenas olho e sinto
Só e quieto
Sem pés ou asas

O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum
É tudo tão simples e comum
Só de graças e belezas

O que penso do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse nisso pensaria
E mais doente ficaria

Ah... como os mais simples dos homens
São tão confusos e estúpidos
E estão de parabéns
De ciência e técnica vestidos

E eu, pensando em tudo isso,
Fiquei outra vez menos feliz
Dos versos que fiz
Neles eu existo

Porque não cantei a borboletinha?
Quanta graça tinha
Com suas asinhas coloridas

Aqui fiquei eu: com porém e nadas....

HTSR/003225091980

A Chave

ADOLESCÊNCIA

A chave na porta
Lá tão rotineira está
O que me importa
A chave na porta

Seu chaveiro oscila levemente
Braços cruzados, sem nada querer
Observo-o como que dormente
Saberei da vida o querer?

A chave lá está
Tão muda, tão quieta
Não tem vida, nem ação
Só funciona por torção!

Fico a imaginar o abrir e fechar...
Se tudo abrisse e fechasse
E eu pudesse olhar
Talvez não sonhasse

Mas de tanto ver a chave
Começo a dormir suave
Sonho com corações
E suas chaves de torções...

Vejo-os chorosos
Vejo-os melindrosos
Sempre a pulsar

A bater sem parar

Mas lá está a chave
Cada um tem a sua
Para que serve
Ter o coração fechadura?

O coração deve ser aberto!
Acaso é ele objeto?
Se o que sinto é vão
Por que me dói o coração?

Não tenho falta de amor
Mas teria outro sabor
Se pudesse encontrar aberta
A fonte que aquece a vida!

O que choro é diferente
Vem da dor de leis fatais
Que regem pedras e gentes
De instintos reais

Quem desta alma fechada
Tão sublime nos liberta?
O coração da amada?

Cadê , então, a porta aberta?

HTSR /003125091980

Quero uma Poesia

ADOLESCÊNCIA

Escreve uma poesia pra mim
Metafísica ou real
Do bem ou mal
Mas escreve pra mim

Algo de ti me falta
Ainda que amar seja um receio
Disso não tomo nota
E almejo esse vago anseio

Há tanta coisa que sem existir
Existe tão demoradamente
E outras que só por existir

Vegetam tão sómente

Uma lembrança falsa e vâ
Não é mais que um engano
E disto não me ufano
É sem graça e sem manhã

Se isto te parecer um nada
Lembre-se que numa estrada
Como é a vida
Muita coisa é incompreendida

É tão pouco o que desejo
Mas é tudo o que me falta
Só isso me pseudo-basta:

O teu doce solfejo!

HTSR/003024091980

Lembranças e Ilusões

ADOLESCÊNCIA

Toca suavemente, ao piano,
Um lindíssimo improviso,
Levendo-me em engano
A sonhos e sorrisos...

Leva-me longe, em suspiro profundo
Além do que desejo e que alcanço
Lá mui longe, onde do viver me esqueço
E das formas incoloridas do mundo

Vagando não sei por onde
Vejo o que acordado não pude
Esquecendo da realidade da vida
Vejo-a em moldes metafísicos erguida

Lá o choro é diferente
Entra menos na alma da gente
É tudo tão evaporante
Ocorre tão rapidamente

É tudo tão macio, tão leve
Que eu, desajeitado, desiquilibro-me!
Segurar-me de nada me serve
Não há substância e tudo me some...

Que mundo engraçado
É tudo tão disforme...
De nuvens errando...
Que fiz de mim? Perdi-me!

Guia-me só a razão
Não me deram nenhum guia!
Alumia-me em vão?
Mas só ela me alumia!

Como alguém distraído na viagem
Segui por dois caminhos, par a par...
Fui em parte com a paisagem
E em parte comigo – sem sentir nem lembrar

O tempo em que hei sonhado
Quantos anos foram de vida
Quanto do meu passado
Só de vida mentida

Agora o vazio impera
De tudo que eu não era
Tudo foi um improviso

De olhares e sorrisos

Já não me recordo quem fui
Chegado onde estou, não me conheço
O que faço aqui?
No meu próprio caminho me atravesso!

Não conheço quem fui no que hoje sou
Quero me lembrar, mas já passou
Sem matéria não há lembrança
É que nem o esperar...

Como à páginas já relidas volto
Minha atenção sobre o que fui de mim.
E nada de verdade em mim encontro
Não sei se sou princípio ou fim!

Tenho saudades de mim
De onde vim
E porque vim
Não me quero assim

Isso lembra a tristeza
E a lembrança é que entristece!
Dou à saudade a riqueza
As emoção que me aqueçe

O som morto das nuvens mansas
O leve som das águas lentas
Leva não só as lembranças
De imagens nevoentas

Mas em seca conformidade difusa
Leva também a confiança rasa
E a morta esperança
Que nada alcança

Morta não porque tem que ser
Mas porque há de morrrer
No amplo azul vaga e solta
Com meu passado que não volta

Silenciado o piano
Vê-se o branco pano
De ilusões lembradas

Agora para sempre caladas...

por HTSR/002923091980

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Saudades de Ti

ADOLESCÊNCIA

Eleonora, menininha singela
Ajeita-se como Cinderela
Nos lábios sorrisos
E vida nos olhos belos

Leve, breve, suave
Como um canto de ave
És tão delicada
E tão amada

Em poesia és tida
Nos sonhos és contida
Em realidade és perdida

És livre e amada

Morena de olhos amantes
Tão cintilantes
Como penas de diamantes
Tão vivos, tão brilhantes

Fito-os agora com tristeza
Lembro-me de outrora
Quando não havia estranhezaa

E ias alegre por aí afora

Te vi externamente
Não te penetrei em mente
Tua alma não senti
Teu coração não ouvi

De primaveras és feita
Mas o inverno te rodeia
A vida em ti devaneia
Na graça em que és solta

Lembro-me com alegria
De quando para mim
Eras como o jasmim

De quando sempre te via

Sinto saudades dos momentos
Momentos que não possui
De ébrio que fiquei

Da monotonia passar aos faustos

HTSR/002821091980

Sonhos Finitos

ADOLESCÊNCIA

Eu tenho os gelos polares
Tenho as neves alpinas
E tenho as pérolas finas
Em sonhos alegres

Eu tenho as algas marinhas
Tenho as orquídeas melindrosas
Tenho as florestas grandiosas
Tão belas e portentosas

Eu tenho a melancolia
E tenho a alegria
Tenho os sons da praia
Nos meus sonhos de poesia

Tenho o amanhecer dos dias
E tenho a altivez dos maias
Tenho as tempestades revoltas
E tenho o domínio das feras

Tenho a vida que não há alhures
Tenho o brilho dos olhares
Tenho, ainda, cintilantes

Os mais belos diamantes

Eu tenho os meus horizontes
Rasgados, amplos e abertos
Tenho a extensão dos desertos
E o topo alvos dos montes

Tenho a alegria e a dor
E da vida o calor
Dos reis tenhos os castelos
E das flores os seus prados

Tenho tudo e não tenho nada
É tudo uma ambição
É tudo um nada
Uma feliz ilusão

Do nada que tenho
Nada ganho
Almejo o querer
Para não padecer

Tenho também o sofrer
E ele é bem real
Existindo como tal

Nunca o irei perder...

HTSR/0027 19091980

Nascendo e Vivendo

ADOLESCÊNCIA

É primavera. A minha mocidade
Abre as asas douradas à alegria...
Que triunfante sol! Que jovialidade!
No peito, o coração dá bom dia!...

Sim... belo dia! Dia festivo!
Em êxtase às nuvens me elevo!
O grito, ainda inocente, de ser filho
Soa em meu coração, e de meus olhos

A primeira lágrima desliza
De tantas outras que ajuntar iria.
Da vida bela e vivaz
Fui eu conhecer o mundo falaz

Não maldigo o rigor do destino
Valhesse-me o atino
Choro da dor
De seu hediondo furor

Da ferocidade da existência
Do sofrer de sua carência
Só a leve esperança em toda a vida
Disfarça a pena de viver, mais nada

Mas existirá esperança?
Tem esta substância?
Cadê a esperança?
Será só essência?

O sonho da alegria
De que um dia viria
É uma hora feliz, aliada
Que não chega nunca em toda a vida

Não tenho esperança
Em minha consciência
Não a vejo

Portanto não a almejo

Da infância já passei
Matéria não achei
Do triste esperar
Estou no enfastioso cansar

Cadê a felicidade que supus?
Cadê a fé que nela pus?
Dos horizontes azuis
Agora emanam lastimosos uis

De meus belos horizontes
Fugiram-me todas as fontes
É tão pouco o que desejo
Que nem é desejo

Quando um amigo busquei
O mundo deserto achei
Óh, como chorei
Como chorei

Só tive contentaqmento
Quando ouvi a voz do vento
A estrela do meu destino
É tão sem tino

Eclodindo a razão da tristeza
Vejo nela beleza
Em nada há razão
É tudo tão vão

De viver tanto
Não sei se existo
Sei que vivo

Mas o que é isso?

HTSR/002617091980