Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sem Título

JUVENTUDE

Quando julgava já dormir meu amor
Eis que ele se acorda cheio de ardor.
E, como um bravio mar,
Dá, de sua graça, o ar!

Balanceia-me, fortemente, o coração,
Encanta-me a alma com sua poção,
Leva meu cérebro a delirar,
E inspira-me a veia do poetar.

A ficção ímpia e incrédula
Ataca-me de novo em fantasia
Levando-me a sonhar, em poesia,
Sutilezas de uma fé singela

E, como que ofuscado pela luz,
Prendo-me ao papel que me seduz
A ti em êxtase escrever
Por maravilhado te querer

Deixa-me cantar teu rosto querido
Teus lindos olhos de puro mel
Teu sorriso tão amável
Que torna a mim encantado

Deixa meus dedos em ti tocar
E em teu colo os descansar
Deixa-me sonhar contigo
Num mundo doce de afago

Teus cabelos negros me enebriam
Tuas faces rosadas me estonteiam
E o licor de teu olhar

Enche de sabor o meu amor

Sinto-me desmaiar de ventura
Ao teu aroma de frescura
Ah... cândido perfume

Que a alma estremece-me

Ao dormir na noite morna
Sinto teu leve semblante
Que a meu sonho adorna
Tão doce e languidamente

Acordo palpitante... delírios!
Te procuro na ilusão
Chamo teu nome em vão
Em meu peito... soluços!

Quero te apertar em meu peito
Sentir teu acalanto
Me envolver em teus abraços
Te aquecer em meus braços

Quero teus lábios beijar
Seu sabor desfrutar
Em tua linda formosura
Quero afogar minha loucura

Se a maciez de teus seios
Sentisse em mim, então
Seria o clímax de anseios
Há muito almejados, senão...

Num gozo que me sufocaria
Meu amor transbordaria
Feliz, então, me tornando
Em algo que vivo esperando

Nesse dia sem igual
Seria minha felicidade final
Não poderia haver outra maior

Do que sentir em mim teu amor

HTSR/009203101982

Sem Título

JUVENTUDE

“Melhor serem dois do que um, porque têm melhor paga do seu trabalho. Porque se um cair, o outro levanta o seu companheiro; mas ai do que estiver só, pois, caindo,não haverá outro que o levante”.

Eclesiastes 4: 9, 10.


Melhor serem dois do que um.
Se um cai, o outro o levanta.
E deles, chorando um,
O outro o acalenta.

Melhor serem dois do que um.
Pois num minuto hostil
Tudo se torna mais fácil
Se forem dois, e não um.

A confiança é fortalecida
E a esperança é renovada,
Quando se tem consigo

A mão presta de um amigo.

O soar de um duplo caminhar
Parece ao medo afugentar.
E, nos momentos vacilantes,

Tornamo-nos desafiantes.

Quando, em horas de incerteza,
Nos abatemos em tristeza,
Uma voz terna e calma
Nos reconforta a alma.

E quando, pessimistas, olhamos o futuro além,
Nada como um conselho otimista d’alguém,
Que bondosa e humanamente

Nos queira ver bem, somente...


HTSR/009101101982

Sem Título

JUVENTUDE

“In memorium” dos meus amores...

Certas estrelas coloridas
De coloridas que são
Inspiram-nos idéias desvairadas
Atormentando-nos a razão

De tão longe que brilham
Parecem que estão confundidas
E de tão longe que ficam
Difícil está vê-las separadas

Seus brilhos, ora fugazes, ora fortes
Misturam-se de instantes em instantes
No intermitente crepitar
Do seu inconstante luminar

Eternamente solitárias
Nas grandezas interplanetárias
Numa existência surdina
Aos nossos seres ilumina

E a emoção que ninguém ignora
Vem dominar, senhora
A voz sumida da alma

Que já não se encontra em calma

A cada piscar de uma estrela
Responde um palpitar do coração
Que extasiado pensa nela
Com uma idéia longe da razão

Idéia fora do tempo e dos espaços
Onde vivem homens e estrelas
Idéia d’um mundo de luzes e abraços
Livre de questões e seqüelas

Questões que repetem num eco coral
Serem as idéias um sonho de cristal
Que a um som mais forte entoado
Logo rompem-se de triste modo

E, entre os cristais quebrados,
O brilho das estrelas se reflete
Espalhando por diversos lados
Nossa felicidade de instante

Num instante de luz, apenas
Como no piscar das estrelas
Nossa felicidade existiu com elas

Acendendo-se e apagando-se, apenas...

HTSR/009024091982

Sem Título

JUVENTUDE

Num minuto as ondas nascem e morrem,
Mas o pensamento pode eterniza-las.
Em momentos, as ilusões nos acodem,
Mas o viver pode dispersa-las.

Durante a existência é muito o que sonhamos
Mas ao final da jornada pouco é alcançado.
E quantas vezes grandemente nos enganamos,
Com aquilo que pensávamos ser, não sendo?

Áspera é a terra e árdua é a caminhada
Nela o tempo vai passando...
Os cenários vão mudando...
E outros sabores vai tomando a vida.

A cada porta que nos abrem,
Nova é a surpresa dada.
E com ela se esvaem
Nossas suposições desacreditadas.

Porém a infeliz teimosia nos persegue
E loucos, apegados em nosso conhecer,
Na incerteza, ainda que caro se pague,
Refugiamo-nos, sem saber o que fazer

Divagando, em trevas pisando,
O nosso passo incerto
Nos leva ao deserto
Dos pensamentos infundados.

Quando entoada uma voz amiga,
Mesquinhos adulteramos os sentimentos.
E ainda que fosse a mão de um anjo oculto,
Sem hesitar, lhe daríamos a resposta amarga.

A frivolidade das interpretações
Corrompe a nobreza dos sentimentos.
A má conotação dos fatos
Tornam torpes as emoções.

A cegueira de olhos velados
Dificultam as relações terrenas.
E, por vezes, corações magoados
Consomem-se em gangrenas...

Ah, o gosto da vitória teria melhor sabor
Se o esforço para alcança-la
Fosse dividido num sadio labor
Por aqueles que não querem perde-la

HTSR/008926061982

Sonhando

JUVENTUDE

Perdi-me, outra vez, delirante a sonhar
Quando num gesto, de querido intento,
Cedeu-me tu, com tão doce encanto,
Gotas rejuvenescedoras de teu olhar

Do gesto ameno e brando
Meu coração se fortaleceu
E louco, como que borbulhando
Meu amor, efervescente, renasceu

Sonhador, votei meus pobres dias
Ao devaneio inalcançável desse amor
De modo que a meu peito embalas
Ao menor ato teu de calor


Se tu soubesses que lembranças felizes
Despertaste em meus pensamentos nesses dias
E tudo por carinhosa pareceres
Às minhas insensatas fantasias!

Palavras amigas trocamos
Piscadelas enamoradas no uniram
E leves sorrisos soltamos
Como aqueles que se amam

Em conseqüência letras amorosas escrevo
Sob as delícias inspiradoras desse enlevo
Sonhando em teus lábios com a doçura

E em teus olhos com a candura

HTSR/008830051982

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Convalescença

JUVENTUDE

No pobre leito teu, desfeito ainda
Aponta a febre que não dorme
E tu lânguida na noite te debates
Em vãos delírios anelando a vida

D’um vivo carmesim dessa corola aberta
Numa cinzenta nebulosa és desperta
Te assalta um espírito sinistro
Abraçando-te a alma como um Nero

O encanto de teu sonho se evapora
E se vão as nuvens néctares de ventura!
Numa conspiração o destino tirou-te o mundo
Aquele de que gostavas e te foi surdo

Eis tu, agora, errante a vagar incerta
Como infeliz pagão amaldiçoado
Procurando quem lhe reverta
À um bom momento já passado...

Enquanto os pesadelos escurecem a mente
Na cama teu corpo indolente
De tão vivo, tão rosado
Vai tênue embranquecendo

A cruel doença te deseja e te possui
De nada adianta entoares tristes uis
Pois a doença é cega e surda
Também não te fala, pois é muda

Numa quase roxa miragem
Vês a ventura além
A esperança move-se no espaço

E arrimas o fraco passo.

Seria melhor voar
Os ares rápido singrar
Pedes aos deuses asas
E eles te dão asas

Teu ser move-se a sacudir loucura
A ganhar mais e mais altura
O roxo visto do elevado
É algo mais diáfano, mais rosado

Ardentes gotas de licor dourado
Caem do sol já perto
E tu, como que desmaiando,
Vês a luz clarear teu peito

Aí tantas visões se passam
Que se misturam
Em teu palpitante ser
Numa aura de sofrer e prazer

As sombras do amanhã
Quando ressurges dourada
Morrem todas na manhã
Que trazes iluminada

Os tolos poetas do spleen
Dizem à tua sorte amém
Esquecendo o que já foi dor
Deixam ao sofrer, bolor...


HTSR/008714051982

Minha Cama

JUVENTUDE

Ah que saudades de minha cama!
Da minha cama que me ama!
Onde dormia tão docemente
E sonhava tão tranqüilamente...


HTSR/0086-1982

Haja Saco

JUVENTUDE

Suportar o insuportável
Eis aqui a questão
Numa aula sem ação
Haja saco tão maleável

Sai aula, entra aula
Todas, coisa tão tola
Não porque assim tem que ser
Mas porque assim as fazem parecer

A questão é ter paciência
Ou, como se diz sem paciência,
É ter saco resistente

E haja saco que agüente!

HTSR/0085-1982

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Estafa

JUVENTUDE

Que chatice é meu quarto de estudos
Passo horas e horas a contragosto
Estudando, estudando sem descanso
Esquecendo-me de poetar e de sonhar

Entre tantos, na estante abandonado
Empoeirado, lá está meu livro romântico
Jogado à sina do descaso
Por essa mania maldita de estudar

Chega de Patologia! Chega! Chega!
Vem tu, agora,
Vem cá querido livro
Vem aos meus sonhos acalentar

Enche meu coração de doce inspiração
Dá-me a liberdade nos livros perdida
A amada diáfana faz-me de novo encontrar

E em seu amor, ávido, deleitar-me

Ah, meu livro, alivia minha mente
Livra-me das enjoadas sabatinas
Mostra-lhes, em pessoa, o diabo
E a mim, cabelos e pupilas de mel

Meus queridos poemas empoeirados...
Nesta circunstância agravante
Quero novamente ressuscitar-vos
E meus devaneios satisfazer

Sílabas e versos apaixonados
Revivamos, sedentos, nossos desejos
Para, juntos, nesse frenesi

Saciarmo-nos na arte do sonhar

HTSR/008414051982

Sem Título

JUVENTUDE

Um nevoeiro ainda que esparso
Se confunde em minha visão endoidecida
E vejo fundir-se numa só figura
As imagens de meu sonho liberto

Nas notas tímidas d’um compasso
Diviso minha ânsia musicada
E de pasma minha mente se embaralha
Assim como tudo que me é de resto

Descontinuamente, instável, flutuante
Vagueio no entender d’uma filosofia
Buscando incrédula ou beatificamente
Sei lá o quê num porque longínquo

Divago em minha tese inconsistente
Mesclada às minhas fantasias de ironia
Introduzindo ideais mutantes
Num concluir que me é inócuo

É pela dúvida da verdade
Que me acresce o nevoeiro
Fecundador de suposições
Que me atiram ao contestável

Atormentado em tosca relatividade
Sinto até o inodoro
E fertilizo fúteis ficções
Sobre o que é inalterável

Imagino que um vento espectro
Soprou dúvida sobre o Universo
E noite fez-se no saber
Que de claro, escureceu

Eis a razão lógica do encontro
Motivado em firme compasso
Buscar o pleno conhecer
Do que não se respondeu

Olhando uma simples flor
Lhe percebo mais do que a fragrância
Do silêncio glacial que lhe paira
Estende-se a mim um alo de consciência

Andando em nevoeiro. Indolente,
Ouço o protesto da existência
E a dor da evolução me esbarra
Cobrando-me da ida inocência.


HTSR/008319031982