Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

O Beijo Mais Íntimo

JUVENTUDE

Cobriu-se de sangue minhas faces...
Ao longe, o marulhar das ondas
Sincronizou com o cantar das aves
Naquela hora iluminada!

Estremeci de tanto amor e tanta glória!
Minha alma de alegria cingida,
Poetizou outros versos, novamente,
De luzes e venturas, aqui na vida.

Como se ao Olimpo tivesse eu ido,
Senti-me nas mãos de Afrodite!
Inquietei-me como um rio na montanha
Queimada pelo fogo do horizonte.

Nunca flamejou tanto um corpo!
Que êxtase mágico eu vivi.
Naquele lúbrico momento

Que do ósculo o mistério senti!

Louco suceder de felicidades!
Amor e sonho num só momento.
A garça fugindo e o vôo ficando,
Delirando a alma de encanto!

Substanciando-se os desejos,
A vida sorriu-me ao peito
Afogueada no frescor
Da alegria em pranto!

Ensejo lascivo de rubor!
Minha virilidade umedecida,
Envolta no oral calor
D’uma ninfa apaixonada!

Dos beijos foi-me o mais íntimo!
Senti não só o instante,
Mas vivi a eternidade
Num momento de completude!...


HTSR/011013071984

Meu Bom Dia

JUVENTUDE

Ao romper da manhã, longe cantam os galos.
Com a brisa fresca e suave,
Que ao meu peito refrigera,
Me vem de ti a lembrança suave...

Por entre a caqueirada do meu quarto
Desfila solta e leve a tua imagem,
No orgulho juvenil do teu ser vegetal
Como vistosa flor em miragem.

Ah... quase penso que sonho!
Mas desta vez acordado estou,
Sei que é mais uma doce visão
Do insano noivo que sou.

Porém, é tão bom sonhar!
Recordar em mística saudade
Os mais lindos momentos do amar
Como se tudo fosse verdade!

Te adoro e sofro com a saudade!
Ao mais leve fechar dos olhos meus
Imagino-te a abraçar-me,

Unindo teus lábios aos meus...

Lembro-me de agradáveis ensejos
Em que nos amando a sós,
Sob a égide do desejo
A luxúria reinava sobre nós!

Revejo, então, teus lindos seios.
Tuas pernas sensuais e macias.
Tuas mãos leves e os finos dedos...
Que delícias de memórias!

E nesta triunfal manhã,
Reinas como nova rosa,
Exalando teus florais perfumes
Fazendo-me cantar-te em prosa.

Ainda que inverne e lá fora chova
Com tua terna figura acordar
Aquece-me como o sol de verão

Neste “bom dia” que me vens dar!

HTSR/010906061984

Fantasia de Amor

JUVENTUDE

Enchi meus sonhos com mil figuras,
Onde a vida perde-se em amores
Na busca insana do espírito
Duma fantasia que habita em flores!

Belo é não discernir entre o Ser e o sonho!
Habitar esvaecido o mundo da ficção
Oscilando entre o real e a ilusão,
Entrementes, sorrir fazendo o coração.

Ah... minha fantasia és tu!
Ente querido de ternura
Neste frágil corpo de mulher
Que sonhos em minh’ alma desperta

Meu tino agoniza e desespera
À lembrança das formas tuas!
Suspirando vôo inebriado
Aos perfumes em que flutuas!...

E neste aroma tentador desvairo
Em noites quentes e carinhosas,
De beijos e olhares de blandícia
Fluindo em cenas maravilhosas!

Ao correr do sono, delirando,
Dispo, sôfrego, as tuas vestes,
Como que pétalas de rosa desfolhando,
Ardendo no amor que me prometes.

Nesta volúpia noturna chego a descorar!
O contato de teus lábios me enfebrece.
Os teus abraços aos olhos me fazem arder
Sob o calor que no teu corpo me aquece!

Sonho com isso e tantos beijos!
Aspiro teu colo cheiroso.
Sorvo teus mamilos lindos,
Afogando-me em pleno gozo!

Entoas leves sussurros
Em tua voz linda, musical,
Com tua boca a exalar
Doce hálito aromal!

Ávido de vontade
Vejo-me entre tuas pernas,
Ébrio a te beijar
As partes mais internas!

Suados, rolam em minhas mãos
Teus belos seios rosados,
Como que pérolas afogueadas
Dos ardentes beijos ganhados...

Te amo, por isso sonho assim.
Tua lembrança me faz corar
E de saber que comigo não estás
Da fantasia acordo a chorar!...

HTSR/010804061984

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Dia Seguinte

JUVENTUDE
Em memória de 25 de Abril de 1984


À minha memória de hoje
Subitamente, lembro-me de ontem
O povo débil gritando: é hoje!
Num anseio já de ontem.

Num arrepio de emoção
Os vejo ondular, fugir,
Patrioticamente cantando
A justiça do porvir!

Não sei ainda, com razão,
Em minha análise indireta
O que essas vozes tanto querem

Com roucos gritos em passeata

A lembrança violenta do duro
Mescla-se a visão flexível da massa
Extasiada no labor da campanha
Que uma fantasia pátria abraça!

Agora! Já! Clama a turba
Na óbvia forma de ser direto
Ignorando as vantagens indiretas
Dos que os mantem em encanto

O hoje é o dia de ontem
Mas o ontem não é eterno
E multidões em marcha prosseguirão

Por um hoje de direito pleno...

HTSR/010704061984

Sem Título

JUVENTUDE

Eis que vejo as nuvens que passam
Para onde elas vão? Não sei!
Sei, apenas, que passam...

Divago meus olhos pela areia
Onde muitos sonhos me nasceram
E agora são apenas poeira.

E no piso de conchas fragmentadas
Se encontram os cacos das ilusões
E os pedaços de minha vida partida

Esta vida que antes me aquecia o coração
E agora nele se esfria,
Pois de tudo já perdeu a noção.

Alegrava-me o azul do mar,
Hoje, turva-me a vista

Tal qual um lacrimejar.

Mas para que servem as lágrimas
Senão para lavar os olhos?
São apenas lágrimas...

A dor corroi-me a alma,
No entanto a gota que de meus olhos verte
É apenas uma lágrima!

Quisera ser como nuvem passageira!
Seria simplesmente visto passando.
Uma fútil presença ligeira...

Vagaria pelos céus infinitos,
Sem por ninguém ser ouvido,

Onde pranteiam os meus gritos...


HTSR/010508011984

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sonho Lúbrico

JUVENTUDE

Sonhar em amor e de amor sonhar!...
Além da flôr que em anjo se transforma
E da escarlate chama que em meu coração arde,
Minha festiva fantasia toma forma!

Sonhar em amor e de amor sonhar...
Ondular nas infinitas fragâncias
De teus femininos odores,
Que transformam desejos em ânsias!

Dos desejos à loucura dos sonhos!
Da fantasia à volúpia do amar!
Quero nas tuas mãos adormecer
E sofrego em teu regaço acordar!

Quero a orgia que a noite reina!
Quero verter em sonho insano
A lúbrica figura da tua lembrança
Despida em meu querer pleno!

Além, muito além eu quero!
Enquanto anseios de meu coração transbordam
Quero cego em extase recitar-te
Versos de amor que em beijos se afogam...

Sonhar de amor e de amor sonhar,
Com teus peitos em roupas que transparecem,
Divisando-lhes as formas lindas desenhadas

Em visões que aos devaneios aquecem...

Sonhar de amor e em amor sonhar,
Com teus perfumes, flores... pura vertigem!
Trepidando, teus ombros abraçar.
Ofegando possuir a tua imagem!

Ver-te dançando voluptuosa e nua,
Delirando e cegando aos olhos meus,
Inebriando-me de vontades
Sob o embalar dos seios teus!...

Quero, na embriaguez de amante
No teu colo beijos despejar!
Embalar-me ao rítimo do teu corpo
Entre tuas pernas minha mão pousar!...

Sonhando e delirando de amor,
Nas gotas orvalhosas do teu suor
Quero meus lábios trêmulos molhar,
Extasiando-me neste teu frescor.

Quero na definição de minha virilidade
Sentir toda a humidade de teu sexo,
Com nossos corpos soltos ao fogo dos desejos
Transformados em música neste nexo!

Sonhar em amor e de amor sonhar...
Para a realidade as costas dar.
Para o mundo um adeus deixar.
E no sonho não mais acordar!


HTSR/010604061984

Ontem Azul

JUVENTUDE

Alguma coisa paira no ar
Neste dia após o de ontem
E meus olhos parados
Contemplam o que não vêem

Sinto-me próximo e distante
Perdido nas raízes dos sonhos
Revivendo sons e imagens
Onde a minha alegria ponho

No cinza horizonte de hoje
Um certo me sacode
Mas o céu é azul
Esta é a verdade

Verdade doce e confortante
Azul é símbolo de bonança
Cor confortante de corações

E renovadora de esperanças

E no cinza meus olhos fixos
Vêem um azul escondido
Com minha alma solta
A vagar no tempo ido

No passar de uma brisa suave
Sinto um roçar de dedos
Que, misturando-se num sol opaco,
Dão-me a visão de olhos semi-cerrados...

Divago num azul distante,
Além do cinza próximo.
Num suceder de beijos e abraços,
A ti, encantado me somo.

Cinza é a ilusão
Azul é a verdade
Baseado nisto somente

Que penso em ontem com saudade

HTSR/010417081983

À Um Mês Atrás

JUVENTUDE

À minha memória de hoje
Uma querida lembrança acudiu
E meu coração muito estremeceu
Na emoção que, então, sentiu

Sonhou a alma já feliz
Com a tua doce imagem
Com o que tudo começou
Numa saudosa miragem

Minha alma vazia de amor
Começara a desmaiar no peito meu
Para enche-la de amor, tu bem sabias,
Bastava-me um beijo teu.

Ah... e isso aconteceu!
Foi naquela linda quarta feira
Quando leram amor em meus olhos
Na ventura que sempre sonhara

E que lembranças felizes hoje tive!
Começaram no barro duma estradinha
Entre suaves flores coloridas

Repletas de belas borboletinhas

Beijei-te no seio da natureza
Ao som da música aguada
Que o riacho libertava
Naquela pureza encantada

Sonhei com mil e uma quarta feiras
Todas lindas, começando com dia dois.
Todas românticas, inesquecíveis...
Importantes somente para nós dois.

À um mês atrás tudo começou
Quando meu berço tu encontrou
E recolhendo meu coração abandonado
Tu, lânguida, docemente o embalaste.

Me lembrarei sempre de ti e dela:
De ti, tão doce e amada.
E dela, a quarta feira histórica,
Que me tornou feliz a vida.


HTSR/010302031983

Sem Título

JUVENTUDE

Ah... quão tormentosas, minhas noites de verão.
O calor me inflama os sonhos e pesadelos,
Aquece-me o que de dia me é reprimido
E transporta-me a fantasias mil!

Meu pálido romantismo dá-me sua unção
E deixo-me transportar a outros paralelos
Sem olhar para frente e esquecido do tempo ido
Transcendente em terras e mares de azul anil

As brisas celestes, suaves me acariciam o peito
E a beijar-me o coração, está o amor duma mulher
Excito-me então na loucura dum amor endoidecido
Sonhando com mãos e rosto de ternura

À sina doida dum amor infinito
Revivo devaneios que quis um dia ter
Enamorando-me cego, doido, alucinado
Por aquela que a minha alma conquistara.

E que beijos de amor me reacenderam!
Que hálitos doces e enfeitiçados!
Carícias de mãos lisas e suaves
Encheram meu corpo de ardor.

Vi mundos de ilusão que passaram
Senti-me um ente encantado
E voei tão alto quanto ave
Nas cismas encantadas do langor


Sonhava morrer em teus joelhos
Sob um sol oriental de púrpura
Tanto era o amor que abraçava
Tanto era o júbilo que sentia

Previ o futuro em mágicos espelhos
Aqueles dois lábios de ventura
Nunca seriam separados, pensava
Num gozo que me todo possuía

Junto as pomas que tremiam
Meu peito em êxtase desmaiou
Afoguei-me em cabelos de seda
Ressuscitando num colo efervescente

Seus seios loucamente suspiravam
Num prazer que forte se insinuou
Em seu corpo de doçura lânguida
Em seus olhos de brilho incandescente

Foi-me, de todas, a noite mais linda.
Corpos tão amantes suando
Formas nuas no leito resvalando
Envoltos em balsâmicos delírios

Para sempre guardarei em morte ou vida
A imagem de suas pálpebras fechando
A cor de seus lábios abrindo

E a candura alva de seus seios.

HTSR/010218021983

Manhã de Verão

JUVENTUDE

Com o Senhor dos Tempos
Por onde vagam as nuvens,
Eu, lírico sonhador,
Estou a vagar, também!

Manhã terna de fevereiro!
Acordo-me radiante
E a brisa fresca do dia
Aspiro alegremente!

A aurora já desponta!
Sol, natureza e sinos a tocar.
Gorjeios de pássaros em festa
Ondas desenrolando a planura do mar!

Que sol! Que céu azul!
Sinto-me um enamorado da vida.
Tristezas? Aonde?
Isso são coisas passadas!

Vide as fontes – que alvura!
Verdor quase de sonho...
De tanto júbilo
Nem sei onde me ponho.

Passado, presente e futuro
Agora são todos irmãos.
Conversam e saltitam
Num alegre dar de mãos.

Sinto-me forte, criador.
Percebo invenções.
Tenho doces delírios...

Fábulas de meus verões.

Sinto-me enamorado da vida!
Abraço como um filho à uma folha.
Em tudo ponho amor,
E em nada vejo falha.

Lembrei-me de entes queridos.
Lembrei-me de ti...
E de alegria
Lágrimas verti.

Meu coração ressoa tal um órgão,
Como se um Bach o tocasse.
Meus dissabores se dissolvem,
Como a mágica de um passe

Sinto-me feliz!
Tua memória me habita.
Foge-me a dor
E a esperança me visita!

Fábulas de verão!
Que queridas ficções,
Fortalecem-me o amar
Em suas doces invenções.

Lembro-me de ti...
Como que encantada,
Habitas cada flor
Desta manhã ensolarada!

És como a vida.
Ainda que não te veja
Percebo-te em sentimento

E meu pensamento então viceja!

HTSR/010102021983

Marise

JUVENTUDE

Neste risonho lar
Existe algo ainda mais risonho
Algo que, como um sonho,
Nos leva a poetar...

Um ser dançante,
De formas saltitantes,
E de um sorriso faceiro,
Que cativa-nos por inteiro.

Neste risonho lar,
Existe alguém que nos faz cantar.
Alguém que com sua alegria meiga
Docemente a nossa alma afaga!

E por causa do seu ser querido
Brincamos de ser poetas,
Escrevendo linhas tortas,
Esquecendo-nos de nosso enfado.

Numa música de Corelli
Não és mais do que uma brisa ali
Os mais leves tons sublinhas,
Como o sorriso audível das folhas...


Teus cabelos brilhantes
Fazem-nos lembrar de noites evaporantes,
De manhãs alegres, perfumadas,
E de tardes mui douradas!...

E assim, fazes risonho este lar.
E tudo aqui fica a gargalhar,
Ainda que inverne forte.
Ou faça calor mui quente.

Teu ser é de sutilezas,
Dando-te que floresças
E que reverdeças
Na mais fina agudeza.

Chegando as primaveras
Eis que te enfloras.
Chegando o inverno, permaneces quente,
Alegre e rejuvenescente...

Marise é teu nome
Onde a tristeza nos some
Onde numa alma luzidia

Reluz uma festividade fugidia.

HTSR/010001021983

Tu

JUVENTUDE

Alma querida! Em ti palpita e canta
A vida nos seus múltiplos rumores,
Qual alegre colorir de flores
Num mistério que te encanta!

Alma querida! Em ti existe música.
A música linda dum Serafim
Que com a paz tão afim
Ao fundo do coração nos toca!

Ao levantar de tuas pálpebras
Se dissipam todas as sombras,
E um rubor nos sobe às têmporas
À visão de tuas pupilas escuras!

Querida alma juvenil,
Lânguida, como vibração perdida,
Habitas o verso infantil
De nossa poesia desafinada.


Tu é quem tem a melodia
Que enche de harmonia
As palavras soltas, deslocadas,
De nossas rimas inacabadas...

O balbuciar de teus lábios
Por nós é percebido
Como suaves assobios
De pássaros em folguedo...

Apodera-se de nosso ser
Uma vibração musical,
Que sem perceber
O torna mais jovial.

E a natureza, ao ouvir-te, se aquieta.
Um espírito de doçura em tudo impera.
E no verde de cada planta

Desponta o sorrir da primavera!

HTSR/009929011983

Sem Título

JUVENTUDE

Tudo tem duas faces, tudo é sol ou noite
Tudo tem duas faces, a vida ou a morte.
Numas noites: vagos desejos, ânsia de ternuras,
Noutras, marmóreos sonhos de desventuras...

Tudo tem um sim e um não,
Um inverno e um verão,
Uma derrota e uma vitória,
Correndo dúbia a nossa história!

Há o ignóbil, o mentiroso, o desleal,
O vil de torpeza magistral!
E há aquele, que em contraste, quase santo
Leva uma vida injusta de incógnito.

Tudo tem duas faces, o claro e o escuro.
Numas horas a prisão sólida de um muro,
Noutras a liberdade dum campo aberto,
E a dúvida de se estar longe ou perto...

Tudo tem um ser e um não ser.
A já velha questão Shakespeareana!
Mas a aviltada alma humana
Parece à isso não perceber.

Numas horas estamos a fazer, noutras a buscar.
E num eterno brincar de procurar
Nos assalta a covardia dos momentos cruciais,
No amor, tornando-nos, então, banais!


Amor! - Dito na voz da lira interna
É incomparável à oratória articulada
De umas três palavras decoradas,
Impura como os lábios que a externa!

Amor! – Uma questão de sim e de não.
Uma questão de realidade ou ilusão,
Que nos leva à alegria ou à dor
No desabrochar ou murchar de flor!

Já foi dito: tudo tem duas faces.
Certas horas, nos sentimos corajosos,
Noutras, tímidos e receosos
Num eterno trocar de faces...

Favorável ou não? A questão é de momento.
Queiramos ou não o momento rege a vida.
Saberemos se longe ou perto?
Se é chegada a hora almejada?

Tudo tem duas faces! O tempo também.
O balançar do pêndulo num vai e vem
Em certos instantes nos traz a incerteza morta,

Noutros, a heróica certeza que nos desperta!

HTSR/009822011983

quarta-feira, 14 de abril de 2010

A Rã e o Boi

JUVENTUDE

Numa ensolarada manhã,
A beira de uma lagoa
Estavam à toa
Um boi e uma rã

Num certo momento
A rã tem um intento
E põe-se a inchar
Para igual ao boi ficar

Estufa-se todinha...
- Impossível amiguinha.
Lhe corrige um inseto
Por certo mais esperto.

- Pois olhe melhor!
Não estou maior?
Disse a rã, tomando mais ar,

Continuando a inchar...

Aos conselhos ignorou
E inchou... inchou...
Até que... pou!
Simplesmente estourou!

O boi acabando de beber
Lança-lhe um ar filosofal,
Como que a dizer
De modo proverbial:

- Quem para cinco moedas nasce,
Ainda que muito se esforce,
Não chega a sete.

Quanto mais a vinte...

HTSR/009719121982

Grandes Horas

JUVENTUDE

As grandes horas! Raridade...
Gasta-se o tempo banalmente
Numa preocupação cronométrica
De se fazer coisas ocas...

As grandes horas! Vive-las?
Tolice! Isso seria um crime.
Só a produção redime.
Deixemos de novelas!

As grandes horas! Vive-las...
Excruciante incerteza
D’uma olvidada riqueza.
Deveremos perde-la?

Oh tempo, tempo, tempo...
Tudo na vida tem tempo.
Até nascer...
Até morrer...

E o viver?
Isto é um outro querer.
Fica para depois.
Existe sempre um depois.

Os dias vão passando
E nós vamos existindo...
Os dias são passados.

Foram feitos de criados!

Afetos?... Divagações?...
São só prisões.
Fazem-nos perder tempo.
O precioso tempo.

Ganhar o pão do meu dia.
Ganhar o pão do teu dia.
Eis a nossa função:
Viver a produção!

É vício ter sentimento.
E meu coração está repleto...
Somente o meu?
Também o teu!

De teus lábios entreabertos
Doces palavras escaparam.
Pousaram sobre os ponteiros
E as horas pararam...

Se tornaram grandes as horas.
Imensas, infindáveis horas...
Segundos, minutos, eu não mais os senti...

As grandes horas! Vivi...

HTSR/009619121982

Esperança

JUVENTUDE

Brancura na alma
Olhos quase cegos
A que se soma
Um falar mais que vago

Ao longe, o horizonte em fuga...
Ao redor, a natureza – morta!
E, como a que nada preza,
Encontra-se a alma – incerta.

Aquém dos vales,
Só nebulosidade...
Além dos vales,
Também: nebulosidade...

Me sinto obscurecido,
Todo enuviado...
Só nuvens na paralisia

De meu desejo... de minha poesia...

Sob meus pés, gelo.
Em meu rosto, amarelo,
Um sorriso sem encanto,
Uma expressão abstrata.

A caneta, imóvel à mão,
Espera por qualquer ação.
Que seja um pensar reflexivo,
Um registro, em nada definitivo...

Escrevo versos indecisos em meu caderno,
Envolto em enlevos de abandono,
Débil das ternuras cetim
Almejadas num esperar sem fim...

E, ao riscar uma grafia trêmula,
Reflexo mudo de minha fala
Percebo que sem sonho,

No papel nada ponho

HTSR/009502121982

Teus Olhos

JUVENTUDE

Eis que os vejo, tão belos
Envoltos num ar tão amável
Estão cheios de um quê singelo
Criador de uma fantasia inexplicável...

A cada movimento de graça
É como uma vida que começa...
E o abrir das cortinas ciliares
Mostra o realce dos brilhos pupilares!

Se neles, brevemente, fixamos
Um pouco de nossa atenção descuidada
Então logo sonhamos
Com toda uma vida amada

Teus olhos são como teu nome...
Marise, doce nome.
Teus olhos, doce visão.
Fonte querida de canção!


Tenho, ao ver teus olhos lindos
Lembrança de pérolas escuras brilhando
Ao contemplar suas formas,
Sinto a placidez de águas calmas...

Um quê de melancolia,
Um quê de alegria
Neles se misturam.
Uns ares de mistério lhes dão.

Nos trazem serena calma.
Branda, leve como pluma...
O longínquo infinito
Com esperança então é visto

E na sugestiva paz da natureza,
Quando nos envolvemos com a pureza,
Uma lembrança nos sacode o coração.

São teus olhos: doce inspiração!

HTSR/009418111982

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sem Título

JUVENTUDE

O que será a poesia?
Corporificação da fantasia?
Exteriorização do sentimento?
Ou será só fingimento?

Por que ficamos horas a poetar
Divagando rimas afora
Quando nos atormenta o sonhar?
Será mera loucura?

O que te trazem esses versos
Que melodificam gracejos
E glorificam nossas visões
Sublinhando nossas sensações?

Será que nos trazem esperanças?
Ou iludem nossa felicidade
Num brincar de esconde –esconde
Entre palavras dispersas?

Onde habitará o poeta
Que em sutil crença
A tudo canta
Numa esvaída lembrança?

Será a poesia fruto d’um instante?
Ou símbolo d’um viver
Que sem perceber
Passa a todos indiferente?

Ah... poesia é mais que isso!...
Do raio de sol da tarde
Uma alma que se esconde
Sai de seu omisso,

E sobre uma janela perdida
Revê a paisagem esquecida!
Nutre forças verdejantes

E tem idéias inflamantes!...

Vive em todos os momentos.
O pasado, o presente e o futuro...
Num só tempo, todos juntos,

Num conviver tão puro...

Sílabas há muito armazenadas
Tomam, então, nova forma
E nasce o poema
Da alma enamorada

Desejos longínquos, dissipados
Retornam à mão trêmula
Que escreve linhas singelas
De sonhos tão almejados

Ventos, negros cabelos
Flores e olhos belos
Fundem-se numa só essência
De rósea transparência

E, na poesia, a alma enamorada
Encontra um mundo doce e amigo
Onde reinam beijos e afagos
Que lhe refazem a alegria reprimida

O que é pois a poesia
Senão um bálsamo ao coração
Que numa doce canção
Suaviza-nos a fantasia

Nela os sentimentos se encontram...
E palavras belas se combinam
Numa querida sensação
Que é só, então, fruto da ilusão...

Assim, numa sonoridade tímida
Mui longe de ser Coreliana
Fica em linhas surdas
Implícita a esperança ufana

Que sem saber como
Deixa entre rimas inacabadas
A vontade incontida

De querer dizer: “te amo”.

HTSR/009315111982