Quem sou eu

Uma entidade difícil de definir pelo formalismo lingüístico. Entretanto, enquanto sujeito, defendo a liberdade de crítica e pratico a crítica da liberdade. Conseqüência: caminhar sobre o "fio da navalha" buscando o equilíbrio entre a transgressão e a disciplina, entre o rigor e a suavidade; tendo como "sol", a iluminar-me e a apontar-me o horizonte, a emancipação conferida pela reflexão ética e como forma primeira de expressão: a poesia.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sonho Lúbrico

JUVENTUDE

Sonhar em amor e de amor sonhar!...
Além da flôr que em anjo se transforma
E da escarlate chama que em meu coração arde,
Minha festiva fantasia toma forma!

Sonhar em amor e de amor sonhar...
Ondular nas infinitas fragâncias
De teus femininos odores,
Que transformam desejos em ânsias!

Dos desejos à loucura dos sonhos!
Da fantasia à volúpia do amar!
Quero nas tuas mãos adormecer
E sofrego em teu regaço acordar!

Quero a orgia que a noite reina!
Quero verter em sonho insano
A lúbrica figura da tua lembrança
Despida em meu querer pleno!

Além, muito além eu quero!
Enquanto anseios de meu coração transbordam
Quero cego em extase recitar-te
Versos de amor que em beijos se afogam...

Sonhar de amor e de amor sonhar,
Com teus peitos em roupas que transparecem,
Divisando-lhes as formas lindas desenhadas

Em visões que aos devaneios aquecem...

Sonhar de amor e em amor sonhar,
Com teus perfumes, flores... pura vertigem!
Trepidando, teus ombros abraçar.
Ofegando possuir a tua imagem!

Ver-te dançando voluptuosa e nua,
Delirando e cegando aos olhos meus,
Inebriando-me de vontades
Sob o embalar dos seios teus!...

Quero, na embriaguez de amante
No teu colo beijos despejar!
Embalar-me ao rítimo do teu corpo
Entre tuas pernas minha mão pousar!...

Sonhando e delirando de amor,
Nas gotas orvalhosas do teu suor
Quero meus lábios trêmulos molhar,
Extasiando-me neste teu frescor.

Quero na definição de minha virilidade
Sentir toda a humidade de teu sexo,
Com nossos corpos soltos ao fogo dos desejos
Transformados em música neste nexo!

Sonhar em amor e de amor sonhar...
Para a realidade as costas dar.
Para o mundo um adeus deixar.
E no sonho não mais acordar!


HTSR/010604061984

Ontem Azul

JUVENTUDE

Alguma coisa paira no ar
Neste dia após o de ontem
E meus olhos parados
Contemplam o que não vêem

Sinto-me próximo e distante
Perdido nas raízes dos sonhos
Revivendo sons e imagens
Onde a minha alegria ponho

No cinza horizonte de hoje
Um certo me sacode
Mas o céu é azul
Esta é a verdade

Verdade doce e confortante
Azul é símbolo de bonança
Cor confortante de corações

E renovadora de esperanças

E no cinza meus olhos fixos
Vêem um azul escondido
Com minha alma solta
A vagar no tempo ido

No passar de uma brisa suave
Sinto um roçar de dedos
Que, misturando-se num sol opaco,
Dão-me a visão de olhos semi-cerrados...

Divago num azul distante,
Além do cinza próximo.
Num suceder de beijos e abraços,
A ti, encantado me somo.

Cinza é a ilusão
Azul é a verdade
Baseado nisto somente

Que penso em ontem com saudade

HTSR/010417081983

À Um Mês Atrás

JUVENTUDE

À minha memória de hoje
Uma querida lembrança acudiu
E meu coração muito estremeceu
Na emoção que, então, sentiu

Sonhou a alma já feliz
Com a tua doce imagem
Com o que tudo começou
Numa saudosa miragem

Minha alma vazia de amor
Começara a desmaiar no peito meu
Para enche-la de amor, tu bem sabias,
Bastava-me um beijo teu.

Ah... e isso aconteceu!
Foi naquela linda quarta feira
Quando leram amor em meus olhos
Na ventura que sempre sonhara

E que lembranças felizes hoje tive!
Começaram no barro duma estradinha
Entre suaves flores coloridas

Repletas de belas borboletinhas

Beijei-te no seio da natureza
Ao som da música aguada
Que o riacho libertava
Naquela pureza encantada

Sonhei com mil e uma quarta feiras
Todas lindas, começando com dia dois.
Todas românticas, inesquecíveis...
Importantes somente para nós dois.

À um mês atrás tudo começou
Quando meu berço tu encontrou
E recolhendo meu coração abandonado
Tu, lânguida, docemente o embalaste.

Me lembrarei sempre de ti e dela:
De ti, tão doce e amada.
E dela, a quarta feira histórica,
Que me tornou feliz a vida.


HTSR/010302031983

Sem Título

JUVENTUDE

Ah... quão tormentosas, minhas noites de verão.
O calor me inflama os sonhos e pesadelos,
Aquece-me o que de dia me é reprimido
E transporta-me a fantasias mil!

Meu pálido romantismo dá-me sua unção
E deixo-me transportar a outros paralelos
Sem olhar para frente e esquecido do tempo ido
Transcendente em terras e mares de azul anil

As brisas celestes, suaves me acariciam o peito
E a beijar-me o coração, está o amor duma mulher
Excito-me então na loucura dum amor endoidecido
Sonhando com mãos e rosto de ternura

À sina doida dum amor infinito
Revivo devaneios que quis um dia ter
Enamorando-me cego, doido, alucinado
Por aquela que a minha alma conquistara.

E que beijos de amor me reacenderam!
Que hálitos doces e enfeitiçados!
Carícias de mãos lisas e suaves
Encheram meu corpo de ardor.

Vi mundos de ilusão que passaram
Senti-me um ente encantado
E voei tão alto quanto ave
Nas cismas encantadas do langor


Sonhava morrer em teus joelhos
Sob um sol oriental de púrpura
Tanto era o amor que abraçava
Tanto era o júbilo que sentia

Previ o futuro em mágicos espelhos
Aqueles dois lábios de ventura
Nunca seriam separados, pensava
Num gozo que me todo possuía

Junto as pomas que tremiam
Meu peito em êxtase desmaiou
Afoguei-me em cabelos de seda
Ressuscitando num colo efervescente

Seus seios loucamente suspiravam
Num prazer que forte se insinuou
Em seu corpo de doçura lânguida
Em seus olhos de brilho incandescente

Foi-me, de todas, a noite mais linda.
Corpos tão amantes suando
Formas nuas no leito resvalando
Envoltos em balsâmicos delírios

Para sempre guardarei em morte ou vida
A imagem de suas pálpebras fechando
A cor de seus lábios abrindo

E a candura alva de seus seios.

HTSR/010218021983

Manhã de Verão

JUVENTUDE

Com o Senhor dos Tempos
Por onde vagam as nuvens,
Eu, lírico sonhador,
Estou a vagar, também!

Manhã terna de fevereiro!
Acordo-me radiante
E a brisa fresca do dia
Aspiro alegremente!

A aurora já desponta!
Sol, natureza e sinos a tocar.
Gorjeios de pássaros em festa
Ondas desenrolando a planura do mar!

Que sol! Que céu azul!
Sinto-me um enamorado da vida.
Tristezas? Aonde?
Isso são coisas passadas!

Vide as fontes – que alvura!
Verdor quase de sonho...
De tanto júbilo
Nem sei onde me ponho.

Passado, presente e futuro
Agora são todos irmãos.
Conversam e saltitam
Num alegre dar de mãos.

Sinto-me forte, criador.
Percebo invenções.
Tenho doces delírios...

Fábulas de meus verões.

Sinto-me enamorado da vida!
Abraço como um filho à uma folha.
Em tudo ponho amor,
E em nada vejo falha.

Lembrei-me de entes queridos.
Lembrei-me de ti...
E de alegria
Lágrimas verti.

Meu coração ressoa tal um órgão,
Como se um Bach o tocasse.
Meus dissabores se dissolvem,
Como a mágica de um passe

Sinto-me feliz!
Tua memória me habita.
Foge-me a dor
E a esperança me visita!

Fábulas de verão!
Que queridas ficções,
Fortalecem-me o amar
Em suas doces invenções.

Lembro-me de ti...
Como que encantada,
Habitas cada flor
Desta manhã ensolarada!

És como a vida.
Ainda que não te veja
Percebo-te em sentimento

E meu pensamento então viceja!

HTSR/010102021983

Marise

JUVENTUDE

Neste risonho lar
Existe algo ainda mais risonho
Algo que, como um sonho,
Nos leva a poetar...

Um ser dançante,
De formas saltitantes,
E de um sorriso faceiro,
Que cativa-nos por inteiro.

Neste risonho lar,
Existe alguém que nos faz cantar.
Alguém que com sua alegria meiga
Docemente a nossa alma afaga!

E por causa do seu ser querido
Brincamos de ser poetas,
Escrevendo linhas tortas,
Esquecendo-nos de nosso enfado.

Numa música de Corelli
Não és mais do que uma brisa ali
Os mais leves tons sublinhas,
Como o sorriso audível das folhas...


Teus cabelos brilhantes
Fazem-nos lembrar de noites evaporantes,
De manhãs alegres, perfumadas,
E de tardes mui douradas!...

E assim, fazes risonho este lar.
E tudo aqui fica a gargalhar,
Ainda que inverne forte.
Ou faça calor mui quente.

Teu ser é de sutilezas,
Dando-te que floresças
E que reverdeças
Na mais fina agudeza.

Chegando as primaveras
Eis que te enfloras.
Chegando o inverno, permaneces quente,
Alegre e rejuvenescente...

Marise é teu nome
Onde a tristeza nos some
Onde numa alma luzidia

Reluz uma festividade fugidia.

HTSR/010001021983

Tu

JUVENTUDE

Alma querida! Em ti palpita e canta
A vida nos seus múltiplos rumores,
Qual alegre colorir de flores
Num mistério que te encanta!

Alma querida! Em ti existe música.
A música linda dum Serafim
Que com a paz tão afim
Ao fundo do coração nos toca!

Ao levantar de tuas pálpebras
Se dissipam todas as sombras,
E um rubor nos sobe às têmporas
À visão de tuas pupilas escuras!

Querida alma juvenil,
Lânguida, como vibração perdida,
Habitas o verso infantil
De nossa poesia desafinada.


Tu é quem tem a melodia
Que enche de harmonia
As palavras soltas, deslocadas,
De nossas rimas inacabadas...

O balbuciar de teus lábios
Por nós é percebido
Como suaves assobios
De pássaros em folguedo...

Apodera-se de nosso ser
Uma vibração musical,
Que sem perceber
O torna mais jovial.

E a natureza, ao ouvir-te, se aquieta.
Um espírito de doçura em tudo impera.
E no verde de cada planta

Desponta o sorrir da primavera!

HTSR/009929011983

Sem Título

JUVENTUDE

Tudo tem duas faces, tudo é sol ou noite
Tudo tem duas faces, a vida ou a morte.
Numas noites: vagos desejos, ânsia de ternuras,
Noutras, marmóreos sonhos de desventuras...

Tudo tem um sim e um não,
Um inverno e um verão,
Uma derrota e uma vitória,
Correndo dúbia a nossa história!

Há o ignóbil, o mentiroso, o desleal,
O vil de torpeza magistral!
E há aquele, que em contraste, quase santo
Leva uma vida injusta de incógnito.

Tudo tem duas faces, o claro e o escuro.
Numas horas a prisão sólida de um muro,
Noutras a liberdade dum campo aberto,
E a dúvida de se estar longe ou perto...

Tudo tem um ser e um não ser.
A já velha questão Shakespeareana!
Mas a aviltada alma humana
Parece à isso não perceber.

Numas horas estamos a fazer, noutras a buscar.
E num eterno brincar de procurar
Nos assalta a covardia dos momentos cruciais,
No amor, tornando-nos, então, banais!


Amor! - Dito na voz da lira interna
É incomparável à oratória articulada
De umas três palavras decoradas,
Impura como os lábios que a externa!

Amor! – Uma questão de sim e de não.
Uma questão de realidade ou ilusão,
Que nos leva à alegria ou à dor
No desabrochar ou murchar de flor!

Já foi dito: tudo tem duas faces.
Certas horas, nos sentimos corajosos,
Noutras, tímidos e receosos
Num eterno trocar de faces...

Favorável ou não? A questão é de momento.
Queiramos ou não o momento rege a vida.
Saberemos se longe ou perto?
Se é chegada a hora almejada?

Tudo tem duas faces! O tempo também.
O balançar do pêndulo num vai e vem
Em certos instantes nos traz a incerteza morta,

Noutros, a heróica certeza que nos desperta!

HTSR/009822011983